Quando se fala em organizações, seja qual for o
contexto (social, político e econômico) é inevitável não se falar em competitividade. Para
uma empresa ser competitiva faz-se necessário o bom uso dos seus recursos:
financeiros, físicos, humanos e organizacionais. De
acordo com Barney (2002), recursos são vantagens tangíveis e intangíveis que
estão relacionados à firma de uma maneira semipermanente e que a capacitam a
gerar e implementar estratégias voltadas para aumentar eficiência e eficácia.
Nesse contexto, os recursos humanos tornam-se valiosos elementos na geração de
vantagem competitiva, constituindo-se, dessa forma em um recurso estratégico.
O que torna as organizações cada vez
mais dependentes de pessoas é exatamente o que essas pessoas carregam consigo,
e que lhes é inerente: o conhecimento. Considera-se que o recurso do
conhecimento tenha se tornado fundamental para as sociedades no geral, e para
as organizações especificamente, de todos os setores, à medida que os poderes
econômicos e produtivos foram se tornando cada vez mais dependentes dos valores
intangíveis gerados pelo conhecimento (DRUCKER, 1993). A aplicação do recurso
do conhecimento, alinhado as novas tecnologias disponíveis no mundo moderno,
gera benefícios intangíveis para as empresas, os quais podemos chamar de Capital
Intelectual.
Antunes (2004, p.197) afirma que o
Capital Intelectual é o conjunto de conhecimento que a empresa possui
proveniente das pessoas que, por meio das suas competências e habilidades,
materializam-no em novas tecnologias, processos e produtos/serviços com a
finalidade de atingir objetivos estratégicos, sendo necessária, entretanto, a
sua adequação à estratégia da empresa. Dessa forma, como busca de
competitividade, as empresas devem investir mais em Capital Intelectual
e, de certa forma, no seu Recurso Humano. Conforme afirma Antunes et al (2009)
entende-se ser necessário o desenvolvimento, pela área da Controladoria das
empresas, de métodos adequados para mensurar e gerenciar esses elementos de
modo a gerar as informações necessárias para a análise da vantagem competitiva propiciada
pelo Capital Humano. Entende-se, dessa forma, que a controladoria tem um papel
importante ao desenvolver formas de medir os investimentos realizados em Capital Humano.
Umas das teorias sobre
competitividade surgida a partir da década de 90, que vem a corroborar com o
desenvolvimento do Capital Intelectual é Resource-based
view of firm – RBV. Barney (2002) apresenta um modelo (VRIO - Valioso -
Raro - Inimitável - Organizado) para análise da possibilidade de conversão de
um recurso em vantagem competitiva o qual consiste em responder às seguintes
questões: 1) Os recursos e as capacidades da firma possibilitam que a mesma
responda às ameaças e oportunidades do ambiente? Caso positivo ele é Valioso
(V); 2) O recurso é controlado apenas por uma pequena quantidade de firmas
concorrentes? Caso positivo ele é Raro (R); 3) As firmas que não têm o recurso
têm um custo para obtê-lo ou desenvolvê-lo? Caso positivo ele é Inimitável (I)
e 4) As políticas e procedimentos da firma estão organizados para explorar esses
seus recursos que são valiosos, raros e inimitáveis? Caso positivo ele é
Organizado (O). Assim, percebe-se como a abordagem RBV pode ser aplicada para
analisar os recursos humanos, utilizando-se para isso o enfoque da
competitividade, pois, conforme afirma Antunes et al (2009) pessoas respondem
em parte pela heterogeneidade de recursos da firma; podem ter competências
raras, valiosas; podem ser consideradas como recursos com mobilidade,
principalmente em atividades que dependam intensivamente do recurso humano.
Portanto, fazendo um alinhamento das
áreas de controladoria e recursos humanos na gestão de capital, a contabilidade
atua no sentido de ter gastos – investimentos – para que a organização tenha
benefícios futuros, é onde se espera que o investimento em capital humano gere
benefícios que se traduzam em vantagens competitivas.
Dessa forma,
a Controladoria atua de maneira interdisciplinar com a área de RH através de
seu Sistema de Informações Gerenciais, disponibilizando as informações que
permitam mensurar e avaliar o retorno sobre os investimentos realizados em Capital Humano.
Conforme Cunha (2007) a chave da teoria do capital humano é o
conceito de que a aquisição de mais conhecimentos e habilidades aumenta o valor
do capital humano das pessoas, aumentando sua empregabilidade, produtividade e
rendimento potencial. Conseqüentemente, o investimento em educação leva a um
aumento de renda futura, além de ocupar uma posição destacada no progresso das
sociedades na forma de bem-estar social e inovação tecnológica. Apesar disso,
essa teoria enfrentou críticas de diversos atores, algumas delas ressaltadas
por Baptiste (2001, p. 191-197) como: (1) a teoria do capital humano só
reconhece duas realidades sociais: a maximização da utilidade individual e o
livre-mercado; (2) os teóricos do capital humano tratam as pessoas como homines economic, radicalmente isoladas,
materialistas, livres de restrições sociais ou responsabilidades, direcionadas
apenas pelo desejo de felicidade e segurança material; (3) os proponentes da
teoria assumem que o mundo é uma meritocracia em que o status sócioeconômico das pessoas é limitado pelo investimento em
educação; (4) pessoas mais educadas sempre são mais produtivas que as menos
educadas, como se a diferença de produtividade fosse suficiente para explicar
toda a injustiça social; (5) a instituição social mais legítima para governar e
explicar o comportamento e realização das pessoas é o mercado livre; (6) a
teoria trata os homens como lobos solitários que misturam avareza com racionalidade
econômica.
O
capital humano pode ser inserido no modelo de Bontis (1998) que divide o
capital intelectual em três componentes principais: (a) Capital Humano:
conhecimentos e competências dos indivíduos, (b) Capital estrutural: processos
internos e informações que fazem parte da organização, e (c) Capital
Relacional: as relações que a organização tem com os seus stakeholders.
Sem
dúvida, o capital intelectual é um fator de extrema importância para as
organizações, uma vez que aumenta a sua competitividade. De tamanha importância
que vários estudos são motivados para contribuir com a ampliação do
conhecimento contábil ao se ter proposto investigar a existência de alguma
influência do entendimento do conceito de Capital Intelectual (MAGALHÃES, 2006).
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