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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

RESENHA: ENSINO E PESQUISA EM CONTROLADORIA E A FORMAÇÃO DO CAPITAL INTELECTUAL NAS ORGANIZAÇÕES


Quando se fala em organizações, seja qual for o contexto (social, político e econômico) é inevitável não se falar em competitividade. Para uma empresa ser competitiva faz-se necessário o bom uso dos seus recursos: financeiros, físicos, humanos e organizacionais. De acordo com Barney (2002), recursos são vantagens tangíveis e intangíveis que estão relacionados à firma de uma maneira semipermanente e que a capacitam a gerar e implementar estratégias voltadas para aumentar eficiência e eficácia. Nesse contexto, os recursos humanos tornam-se valiosos elementos na geração de vantagem competitiva, constituindo-se, dessa forma em um recurso estratégico.
            O que torna as organizações cada vez mais dependentes de pessoas é exatamente o que essas pessoas carregam consigo, e que lhes é inerente: o conhecimento. Considera-se que o recurso do conhecimento tenha se tornado fundamental para as sociedades no geral, e para as organizações especificamente, de todos os setores, à medida que os poderes econômicos e produtivos foram se tornando cada vez mais dependentes dos valores intangíveis gerados pelo conhecimento (DRUCKER, 1993). A aplicação do recurso do conhecimento, alinhado as novas tecnologias disponíveis no mundo moderno, gera benefícios intangíveis para as empresas, os quais podemos chamar de Capital Intelectual.
            Antunes (2004, p.197) afirma que o Capital Intelectual é o conjunto de conhecimento que a empresa possui proveniente das pessoas que, por meio das suas competências e habilidades, materializam-no em novas tecnologias, processos e produtos/serviços com a finalidade de atingir objetivos estratégicos, sendo necessária, entretanto, a sua adequação à estratégia da empresa. Dessa forma, como busca de competitividade, as empresas devem investir mais em Capital Intelectual e, de certa forma, no seu Recurso Humano. Conforme afirma Antunes et al (2009) entende-se ser necessário o desenvolvimento, pela área da Controladoria das empresas, de métodos adequados para mensurar e gerenciar esses elementos de modo a gerar as informações necessárias para a análise da vantagem competitiva propiciada pelo Capital Humano. Entende-se, dessa forma, que a controladoria tem um papel importante ao desenvolver formas de medir os investimentos realizados em Capital Humano.
            Umas das teorias sobre competitividade surgida a partir da década de 90, que vem a corroborar com o desenvolvimento do Capital Intelectual é Resource-based view of firm – RBV. Barney (2002) apresenta um modelo (VRIO - Valioso - Raro - Inimitável - Organizado) para análise da possibilidade de conversão de um recurso em vantagem competitiva o qual consiste em responder às seguintes questões: 1) Os recursos e as capacidades da firma possibilitam que a mesma responda às ameaças e oportunidades do ambiente? Caso positivo ele é Valioso (V); 2) O recurso é controlado apenas por uma pequena quantidade de firmas concorrentes? Caso positivo ele é Raro (R); 3) As firmas que não têm o recurso têm um custo para obtê-lo ou desenvolvê-lo? Caso positivo ele é Inimitável (I) e 4) As políticas e procedimentos da firma estão organizados para explorar esses seus recursos que são valiosos, raros e inimitáveis? Caso positivo ele é Organizado (O). Assim, percebe-se como a abordagem RBV pode ser aplicada para analisar os recursos humanos, utilizando-se para isso o enfoque da competitividade, pois, conforme afirma Antunes et al (2009) pessoas respondem em parte pela heterogeneidade de recursos da firma; podem ter competências raras, valiosas; podem ser consideradas como recursos com mobilidade, principalmente em atividades que dependam intensivamente do recurso humano.
            Portanto, fazendo um alinhamento das áreas de controladoria e recursos humanos na gestão de capital, a contabilidade atua no sentido de ter gastos – investimentos – para que a organização tenha benefícios futuros, é onde se espera que o investimento em capital humano gere benefícios que se traduzam em vantagens competitivas.
            Dessa forma, a Controladoria atua de maneira interdisciplinar com a área de RH através de seu Sistema de Informações Gerenciais, disponibilizando as informações que permitam mensurar e avaliar o retorno sobre os investimentos realizados em Capital Humano. Conforme Cunha (2007) a chave da teoria do capital humano é o conceito de que a aquisição de mais conhecimentos e habilidades aumenta o valor do capital humano das pessoas, aumentando sua empregabilidade, produtividade e rendimento potencial. Conseqüentemente, o investimento em educação leva a um aumento de renda futura, além de ocupar uma posição destacada no progresso das sociedades na forma de bem-estar social e inovação tecnológica. Apesar disso, essa teoria enfrentou críticas de diversos atores, algumas delas ressaltadas por Baptiste (2001, p. 191-197) como: (1) a teoria do capital humano só reconhece duas realidades sociais: a maximização da utilidade individual e o livre-mercado; (2) os teóricos do capital humano tratam as pessoas como homines economic, radicalmente isoladas, materialistas, livres de restrições sociais ou responsabilidades, direcionadas apenas pelo desejo de felicidade e segurança material; (3) os proponentes da teoria assumem que o mundo é uma meritocracia em que o status sócioeconômico das pessoas é limitado pelo investimento em educação; (4) pessoas mais educadas sempre são mais produtivas que as menos educadas, como se a diferença de produtividade fosse suficiente para explicar toda a injustiça social; (5) a instituição social mais legítima para governar e explicar o comportamento e realização das pessoas é o mercado livre; (6) a teoria trata os homens como lobos solitários que misturam avareza com racionalidade econômica.
            O capital humano pode ser inserido no modelo de Bontis (1998) que divide o capital intelectual em três componentes principais: (a) Capital Humano: conhecimentos e competências dos indivíduos, (b) Capital estrutural: processos internos e informações que fazem parte da organização, e (c) Capital Relacional: as relações que a organização tem com os seus stakeholders.
            Sem dúvida, o capital intelectual é um fator de extrema importância para as organizações, uma vez que aumenta a sua competitividade. De tamanha importância que vários estudos são motivados para contribuir com a ampliação do conhecimento contábil ao se ter proposto investigar a existência de alguma influência do entendimento do conceito de Capital Intelectual (MAGALHÃES, 2006).  
           
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Antunes, Maria Thereza Pompa; Cesar,  Ana Maria Roux V. C.; Perez, Gilberto; Formigoni, Henrique. Análise Empírica da Percepção dos Gestores de Controladoria e de Recursos Humanos Sobre a Contribuição do Capital Humano. In: ENANPAD, 33º, 2009, São Paulo.

Castelo, Aline Duarte Moraes; Albuquerque, Sâmia Raquel Castor; Peter, Maria da Glória Arrais; Machado, Marcus Vinicius Veras; Rodrigues, Maria Denise Nunes. O Ensino da Controladoria nos Cursos de Graduação em Ciências Contábeis nas Universidades Federais do Brasil. Universidade Federal do Ceará.

CUNHA, Jacqueline Veneroso Alves da Cunha. Doutores em Ciências Contábeis da FEA/USP Análise Ópitica da Teoria do Capital Humano. São Paulo, 2007. Tese (Doutorado em Ciências Contábeis) – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, 2007.

Ferreira, Aristides Isidoro; Martinez, Luís Fructuoso. Intellectual Capital Perceptions of Productivity and Investment. RAC, Curitiba, v. 15, n. 2, art. 5,
pp. 249-260, Mar./Abr. 2011.

MAGALHÃES, Francyslene Abreu Costa. Construção do saber no programa de doutorado em contabilidade no Brasil: Plataformas teóricas e motivações. São Paulo, 2006. Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis) – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, 2006.

Riccio, Edson Luiz; SAKATA, Marici Cristine Gramacho. Evidências da Globalização na Educação Contábil: Estudo das Grades Curriculares dos Cursos de Graduação em Universidades Brasileiras e Portuguesas. Revista Contabilidade & Finanças - USP, São Paulo, n. 35, p. 35 - 44, maio/agosto 2004.

SILVA, Denise Mendes da; NETO, José Dutra de Oliveira. O Impacto dos Estilos de Aprendizagem no Ensino da Contabilidade. Revista Contabilidade Vista & Revista, ISSN 0103-734X, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, v. 21, n. 4, p. 123-156, out./dez. 2010.

SOUZA, Marcos Antônio de; MACHADO, Débora Gomes; BIANCHI, Márcia. Uma Visita aos Programas Brasileiros de Pós-Graduação Strictu Sensu em Contabilidade. In: ENANPAD, 33º, 2009, São Paulo.



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