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terça-feira, 30 de outubro de 2012


A EMERGÊNCIA E O CAMPO DA TEORIA ORGANIZACIONAL

           O mundo vem sendo modificado por guerras, movimentos civis e revoluções culturais. Clegg e Hardy (1998) exemplificam esse contexto: implosão do comunismo, a explosão do neoconservadorismo, a erradicação do apartheid, o avanço do feminismo, a erosão da dominação comercial dos Estados Unidos e a ascensão do poder econômico do Leste Asiático. Poderíamos ir mais adiante colocando como exemplo dessas mudanças o surgimento das organizações virtuais, em rede, globais e pós-modernas.
Clegg e Hardy (1998) afirmam que existe, à medida que nos aproximamos do novo milênio, muitos novos fenômenos, novas condições, novas entidades e até novas organizações para serem exploradas pelos teóricos da organização. Todas as mudanças que ocorrem no mundo têm grande implicação na forma como iremos entender os “estudos organizacionais”. O campo da Teoria Organizacional emerge paralelamente ao contexto dessas mudanças e, primordialmente, ao nascimento da Revolução Industrial.
            Landes (1994) afirma que o cerne dessa Revolução foi uma sucessão inter-relacionada de mudanças tecnológicas. Três áreas de destacaram em termos de avanços materiais: (1) substituição das habilidades humanas por dispositivos mecânicos; (2) energia de fonte inanimada – especialmente a do vapor – tomou o lugar da força humana e animal; (3) melhora acentuada nos métodos de extração e transformação das matérias-primas. Parece que ficaria claro que com a mudança nesses equipamentos e processos, novas formas de organização industrial começariam a surgir.
            Com essas novas tecnologias, complementa Landes (1994), o tamanho das unidades produtoras aumentou: as máquinas e a energia exigiram e possibilitaram a concentração da fabricação, e as oficinas ou as salas de trabalho domiciliares deram lugar às usinas e às fábricas. Garcia (1981, p. 41) argumenta: “ora, como administrar uma fábrica de 1.500 operários em 1765 sem uma clara e efetiva política gerencial e técnicas racionalizadoras do trabalho, a fim de se obter lucros e, portanto, remuneração do capital investido.”
            Garcia (1981) afirma que os regulamentos e normas constituíam uma evidência empírica que comprova a preocupação com as racionalizações e que a preocupação com organização e métodos já dava sinais em 1791.
Podemos visualizar essa afirmação através de Foucault (apud Garcia, 1981) em que ele diz: “Percorrendo-se o corredor central da oficina, é possível realizar uma vigilância ao mesmo tempo geral e individual: constatar a presença, a aplicação do operário, a qualidade de seu trabalho; comparar os operários entre si, classificá-los segundo sua habilidade e rapidez; acompanhar os sucessivos estágios da fabricação. Todas essas seriações formam um quadriculado permanente: as confusões se desfazem; a produção se divide e o processo de trabalho se articula por um lado segundo suas fases, estágios ou operações elementares e, por outro, segundo os indivíduos que o efetuam, os corpos singulares que a ele são aplicados: cada variável dessa força-vigor, rapidez, habilidade, constância – pode ser observada, portanto caracterizada, apreciada, contabilizada e transmitida a quem é o agente particular dela.
            Asthon (apud Garcia, 1981) afirma que não haveria possiblidade de uma Revolução Industrial provocando uma radical mudança na atividade econômica sem uma “revolução” que mudasse os métodos de direção de uma imensa riqueza que se produzia na Inglaterra, notadamente na indústria têxtil e metalúrgica.
O grande desafio para um administrador nessa época era conjugar a seleção de operários com capacidade de aprenderem as novas técnicas e ao mesmo tempo serem suscetíveis de se submeterem à disciplina da fábrica.
Um novo cenário começou a surgir. Indústria em expansão, mercado externo atrativo e forte, tecnologia da máquina a vapor em plena operação, propiciando elevados ganhos de produtividade. No entanto surgia uma pergunta: como contratar operários com capacidade para assimilar novas técnicas e de se submeterem à disciplina da fábrica?
Conforme coloca Garcia (1981), os empregadores britânicos daquela época, constantemente reclamavam da “preguiça” do operário ou de sua tendência para trabalhar até que tivessem ganho salário tradicional de subsistência semanal, e então paravam.
Esses patrões sabiam que tinham poucas opções: ou se faz um incremento absoluto na quantidade de recursos utilizados via aumento de mão-de-obra ou capital, ou se procura uma maneira de aumentar a eficiência relativa com que são utilizados os recursos disponíveis mediante alteração dos métodos de organização.
Lampard (apud Garcia, 1981) afirma que era imperioso pensar em numa “Ciência das Racionalizações”, para questões tais como: recrutamento e treinamento dos operários, adaptação dos operários à rotina e padronização das fábricas, o estabelecimento de relações industriais impessoais no tocante a questões de horário, condições de trabalho, salários, etc, como também prever e prover essa classe trabalhadora de habitação, saúde pública, educação, entre outras, pela simples imposição mais elementar do capitalismo que é a reprodução da força-de-trabalho.
A ciência da administração vai criando contornos em função da produtividade. A tecnologia e a forte expansão dos mercados criam uma nova forma de organizar o trabalho. É assim que nasce a noção de gerenciamento da força de trabalho que se espalhou e se consolidou na Inglaterra (Revolução Industrial) de forma definitiva.
Corrobora com essa afirmação o relato de Thompson (apud Garcia, 1981) de que a necessidade de paz na indústria, de uma força de trabalho estável e de um corpo de trabalhadores capacitados e experientes exigia a modificação das técnicas gerenciais – e, na realidade, a formação de novas formas de paternalismo.
É dessa forma que os estudos organizacionais começam ter contornos mais robustos. A modernização instigada pelo despertar do capitalismo trouxe mudanças econômicas, políticas e sociais, que criaram um mundo fundamentalmente distinto daquele em que imperavam as formas de produção e administração em pequena escala, típicas das primeiras fases do desenvolvimento capitalista do século XVIII e princípio do século XIX (Bendix 1974, apud Reed, 1981).
A ideia é que os teóricos organizacionais - assim como fizeram aqueles na época da revolução industrial, da administração científica, da teoria clássica e de tantas outras – desenvolvam debates para evolução do campo organizacional: debates para desenvolver uma teoria sobre o assunto, debates para construir uma teoria organizacional e debates necessários a construção de uma teoria do desenvolvimento.
Referências
CLEGG, S.; HARDY, C. Introdução: organização e estudos organizacionais. In: CLEGG, S.;
C. HARDY, C.; NORD, W. (Org.). Handbook de estudos organizacionais. Vol. 1. São Paulo: Atlas, 1998. p. 27-57.
GARCIA, F. C. Repensando o paradigma taylorista na ciência administrativa: um ensaio sobre os primórdios da racionalização do trabalho. Belo Horizonte: CAD (Tese para Professor Titular da FACE-UFMG). (Cap.II)
LANDES, D. S. Prometeu desacorrentado. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994. (Cap. 1-Introd.)
REED, M. Teorização organizacional: um campo historicamente contestado. In: CLEGG, S.; C. HARDY, C.; NORD, W. (Org.). Handbook de estudos organizacionais. Vol. 1. São Paulo: Atlas, 1998. p. 61-98.

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