Conforme os autores, o pensamento
ecológico tem tido um papel importante na evolução do pensamento sobre a
organização e gestão. Isto variou de considerações sobre a participação do
ambiente na tomada de decisão empresarial para a exploração de novas formas de
gestão com base em princípios ecológicos e contribuições específicas na análise
do ciclo de vida, sustentabilidade e
ecologia industrial. Passando para os aspectos ecológicos da gestão corporativa
surge o conceito do “Novo Ambientalismo Corporativo” (NAC) que é definido como retórica referente ao papel central dos negócios na realização
tanto do crescimento econômico e
racionalidade ecológica como um guia para a gestão que enfatiza o controle
voluntário e proativo dos impactos ambientais que excedem ou vão além da
legislação ambiental e conformidade normativa. O
artigo começa com um esboço da natureza da cidadania e da corporação. Três
diferentes conceituações de cidadania ecológica são introduzidas para
sintetizar as perspectivas divergentes evidentes na literatura. O caráter cidadão de corporações se torna mais
evidente se olharmos para seu papel de participar da governança social ao lado
de outros cidadãos e seus representantes. Este aspecto é particularmente relevante no contexto do NAC, como
sociedades de fato participam na arena da política verde. Dessa forma, o artigo
volta-se especificamente para perspectivas ecológicas sobre cidadania. Perspectivas
ecológicas representam relativamente novas maneiras de pensar sobre as
definições das relações de cidadania. É a afirmação dos autores de que a
cidadania ecológica oferece alguma promessa para o desenvolvimento da
compreensão sobre o papel da empresa na sociedade. Em um nível básico, a cidadania
ecológica é preocupada com o status, direitos e processos de participação que usufruem
os cidadãos em relação ao ambiente natural. No entanto, as diversas
terminologias de cidadania ambiental abraçam um amplo espectro de opinião sobre
a forma e a importância relativa desses recursos. É possível discernir três
vertentes, cada uma delas caracteriza a cidadania ecológica diferentemente. Primeiro,
há a noção fundamentada em ideias pré-modernas de identidade e status, sendo
intimamente ligada a um determinado território físico ou ambiente ecológico em
vez de um Estado-nação e/ou governo. Em segundo lugar, há a noção de cidadania,
sendo fundamentada em aparelhos modernos de cidadania liberal ou republicana e
concentrando-se predominantemente nos direitos ambientais ou o bem comum, respectivamente. Terceiro, há uma noção
baseada na não territorialidade que pretende estabelecer uma base inteiramente
nova para a cidadania. Essas três vertentes (cidadania ecológica como conexão
íntima; cidadania ecológica como uma extensão dos direitos e obrigações e
cidadania ecológica como uma nova obrigação de não territorialidade) são
aprofundadas pelos autores ao longo do artigo. Dentre os conceitos que foram
expostos, devemos dar atenção para o de Dobson: conceito de pegada ecológica — "uma
avaliação quantitativa da área biologicamente produtiva (a quantidade de
natureza) necessária para produzir os recursos (alimento, energia e materiais)
e para absorver os resíduos de um indivíduo, cidade, região ou país” A
pegada ecológica é uma ferramenta bastante conhecida para estimar a quantidade
de área de terra produtiva que é necessária para sustentar uma população humana
específica em termos de sua assimilação de consumo e desperdício de recursos. Nesse
contexto, pode-se distinguir três domínios principais: responsabilidades
para exportação de cidadania liberal; repensar o conjunto dos stakeholders; e reconfigurar
a comunidade do cidadão corporativo. A cidadania ecológica oferece uma variedade
de formas para explorar a relação entre empresas, cidadania e ambiente. Isso
inclui novas abordagens sobre o papel das empresas na exportação de cidadania
liberal e o impacto que isso tem sobre as comunidades indígenas e seus
conhecimentos e cultura. Ela também inclui novas maneiras de pensar sobre os
stakeholders e comunidades alternativas de obrigação em torno da empresa. Em
relação às responsabilidades para a exportação de cidadania liberal, há
promessa considerável no uso de cidadania ecológica para melhorar as conceituações
e o papel das corporações sobre a configuração social, política, econômica e a
paisagem ecológica das comunidades. A cidadania
ecológica oferece uma dimensão política importante para o discurso do NAC que
está ausente no momento. A corporação não tendeu a característica muito
proeminente nas análises políticas da cidadania e do ambiente, considerando que
da mesma forma, a análise política da cidadania ainda precisa inserir o debate
sobre as empresas e a sustentabilidade. No artigo, os autores abriram espaço conceitual
para teorizar sobre ambientalismo corporativo no momento em que o papel
político da empresa está cada vez mais aberto para o debate. Como uma
contribuição fundamental para o debate em curso sobre NAC, cidadania ecológica
oferece um conjunto de lógicas discretas para repensar as dimensões políticas
de responsabilidade corporativa para o ambiente ecológico. A análise feita
pelos autores ajuda a compreender e traduzir as questões que foram discutidas
de forma isolada, dentro de um quadro político mais amplo e sistemático. É necessário, segundo os autores, mais
investigação antes de se desenhar propostas mais concretas de reforma do
pensamento de cidadania ecológica.
Referência:
MATTEN, Dirk; MOON, Jeremy; CRANE, Andrew. Ecological
Citizenship and the Corporation: Politicizing the New Corporate Environmentalism
(December 1, 2008). Organization & Environment, Vol. 21, nº. 4, pp.
371-389.
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