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terça-feira, 30 de outubro de 2012


RESENHA ABORDAGEM BUROCRÁTICA

Na metade do século passado, as ideias de um sociólogo alemão provocaram o surgimento de uma teoria na administração: era o surgimento da Teoria da Burocracia desenvolvida por Max Weber (1864-1920). Nascia, assim, o modelo burocrático.
Conforme Ramos (1983, p. 191), Weber define a burocracia como o agrupamento social em que rege o princípio da competência definida mediante regras, estatutos, regulamentos; da documentação; da hierarquia funcional; da especialização profissional; da permanência obrigatória do servidor, na repartição, durante determinado período de tempo; e da subordinação do exercício dos cargos a normas abstratas.
De acordo com Weber (1982), a burocracia moderna funciona regendo o princípio de áreas de jurisdição fixas e oficiais, ordenadas de acordo com regulamentos, ou seja, por leis ou normas administrativas. Nessa primeira forma específica, existem três elementos que nos Governos públicos e legais constituem a “autoridade burocrática”. Já no domínio econômico privado, constituem a “administração” burocrática.
Assim, segundo Weber (1982), a burocracia se desenvolve plenamente em comunidades políticas e eclesiásticas apenas no Estado moderno, e na economia privada, apenas nas mais avançadas instituições do capitalismo. A autoridade permanente e pública, com jurisdição fixa, não constitui a norma histórica, mas a exceção. Seus encargos e sua autoridade não são delimitados com precisão, e têm uma natureza temporária, sendo criadas para cada caso específico. Os elementos são os seguintes: “As atividades regulares necessárias aos objetivos da estrutura governada burocraticamente são distribuídos de forma fixa como deveres oficiais; a autoridade de dar as ordens necessárias à execução desses deveres oficiais se distribui de forma estável, sendo rigorosamente delimitada pelas normas relacionadas com os meios de coerção, físicos, sacerdotais ou outros, que possam ser colocados à disposição dos funcionários ou autoridades; tomam-se medidas metódicas para a realização regular e contínua desses deveres e para a execução dos direitos correspondentes; somente às pessoas que têm qualificações previstas por um regulamento geral são empregadas.” (WEBER, 1982).
As outras formas específicas segundo Weber (1982) são as seguintes: Os princípios da hierarquia dos postos e os níveis de autoridades significam um sistema firmemente ordenado de mando e subordinação, no qual há uma supervisão dos postos inferiores pelos superiores. Com o pleno desenvolvimento do tipo burocrático, a hierarquia dos cargos é organizada monocraticamente; a administração de um cargo moderno se baseia em documentos escritos, preservados em sua forma original ou em esboço; a administração burocrática, pelo menos toda a administração especializada - que é caracteristicamente moderna - pressupõe habitualmente um treinamento especializado e completo. Isso ocorre cada vez mais com o diretor moderno e o empregado das empresas privadas, e também com o funcionário do Estado; quando o cargo está plenamente desenvolvido, a atividade oficial exige a plena capacidade de trabalho do funcionário, a despeito do fato de ser rigorosamente delimitado o tempo de permanência na repartição, que lhe é exigido. Normalmente, isso é apenas o produto de uma longa evolução, tanto nos cargos públicos como privados. Antigamente, em todos os casos, a situação normal era inversa: os negócios oficiais eram considerados como uma atividade secundária; e como última forma específica da burocracia moderna, Weber coloca que o desempenho do cargo segue regras gerais, mais ou menos estáveis, mais ou menos exaustivas, e que podem ser aprendidas. O conhecimento dessas regras representa um aprendizado técnico especial, a que se submetem esses funcionários. Envolve jurisprudência, ou administração pública ou privada. 
Percebe-se, na organização burocrática, uma vantagem técnica no que diz respeito a superioridade sobre qualquer outra forma de organização. Essa superioridade é puramente técnica. Um modelo burocrático bastante desenvolvido pode ser comparado às outras instituições “exatamente da mesma forma pela qual a máquinas se comparam aos modos não-mecânicos de produção” (WEBER, 1982). Conceitos como exatidão, rapidez, transparência, conhecimento dos arquivos, continuidade, unidade, discrição, subordinação (rigorosa), redução do atrito e dos custos de material e pessoal – são levados ao ponto ótimo em uma organização pautada no rigor burocrático.
Através desse progresso da estrutura burocrática, a promoção de uma vida “racionalista” torna-se natural. Porém, a definição de racionalismo possibilita uma ampla variedade de contextos. Simon (1965, p. 64) afirma que os fatos e os valores estão relacionados com meios e fins, respectivamente. No processo decisório escolhem-se as alternativas consideradas como meios adequados para atingir os fins desejados. Os fins em si mesmos, porém, são, as mais das vezes, apenas instrumentos para conseguir objetivos mais distantes. Em consequência, somos levados a conceber uma série, ou hierarquia, de fins. Isso se coaduna com as ideias de Weber (1982) de que a burocracia tem um caráter “racional”: regras, meios, fins e objetivos dominam sua posição.
Assim, para Simon (1965, p. 78), a racionalidade ocupa-se da seleção de alternativas de comportamento preferidas de acordo com algum sistema de valores que permite avaliar as consequências desse comportamento. Mota (1993, p. 50) afirma que a ideia de racionalidade analítica no processo decisório se revitalizou nas décadas anteriores através da ênfase dada aos modelos matemáticos de decisão, decorrentes da introdução dos sistemas de computação nas grandes organizações modernas. De um certo ângulo, realmente o homem não tem poder computacional para avaliar todas as alternativas para a tomada de decisão, e mesmo que tivesse, quem poderia afirmar que aquela alternativa seria a mais viável?
O que pode ser visto na análise do modelo burocrático é o surgimento de um sistema racional de ação. No entanto, mesmo com as vantagens técnicas resgatadas pelo modelo e variedade de formas que a racionalidade pode tomar, a burocracia apresenta algumas disfunções (resistência à mudança, excesso de formalismo, regras, apego aos procedimentos, etc). Conforme Mota (1993, p. 71) a realidade contemporânea, altamente mutante, ultrapassa todas as possibilidades da ação racional exclusiva. Temos, hoje, a necessidade de dar uma resposta rápida ao ambiente, que torna inócuo os métodos racionais. A intuição, nesse caso, torna-se um contra ponto a teoria burocrática, pois aparece como uma forma de reação à imprevisibilidade e às contradições da empresa moderna. Resta saber, ainda, como se aprimorar a habilidade intuitiva (MOTA, 1993).
De certa forma a burocracia contribuiu e continua contribuindo para o desenvolvimento de teorias organizacionais e ainda é bastante presente em muitas formas de organizações. Há, neste momento, a necessidade de se mudar o pensar do modelo burocrático, como uma teoria com princípios, alterando a forma pejorativa do termo, para um repensar alternativo e necessário.
Referências
MOTTA, P. Gestão contemporânea: a ciência e a arte de ser dirigente. 3. Ed. Rio de Janeiro: Record, 1993. (Cap. 3)
RAMOS, A. Administração e contexto brasileiro.  Rio de Janeiro: FGV, 1983. (Seções: 2.1; 2.4; 2.5; 5.2; 5.6)
SIMON, H. Comportamento administrativo. Rio de Janeiro: FGV, 1965. (Caps. 1-4)
WEBER, M. Ensaios de sociologia. Rio de Janeiro: Guanabara, 1982. (Parte II, Cap. VIII)

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