RESENHA ABORDAGEM BUROCRÁTICA
Na metade do século passado, as ideias
de um sociólogo alemão provocaram o surgimento de uma teoria na administração:
era o surgimento da Teoria da Burocracia desenvolvida por Max Weber (1864-1920).
Nascia, assim, o modelo burocrático.
Conforme Ramos (1983, p. 191), Weber define
a burocracia como o agrupamento social em que rege o princípio da competência
definida mediante regras, estatutos, regulamentos; da documentação; da
hierarquia funcional; da especialização profissional; da permanência
obrigatória do servidor, na repartição, durante determinado período de tempo; e
da subordinação do exercício dos cargos a normas abstratas.
De acordo com Weber (1982), a burocracia
moderna funciona regendo o princípio de áreas de jurisdição fixas e oficiais,
ordenadas de acordo com regulamentos, ou seja, por leis ou normas
administrativas. Nessa primeira forma específica, existem três elementos que
nos Governos públicos e legais constituem a “autoridade burocrática”. Já no
domínio econômico privado, constituem a “administração” burocrática.
Assim, segundo Weber (1982), a
burocracia se desenvolve plenamente em comunidades políticas e eclesiásticas
apenas no Estado moderno, e na economia privada, apenas nas mais avançadas
instituições do capitalismo. A autoridade permanente e pública, com jurisdição
fixa, não constitui a norma histórica, mas a exceção. Seus encargos e sua
autoridade não são delimitados com precisão, e têm uma natureza temporária,
sendo criadas para cada caso específico. Os elementos são os seguintes: “As
atividades regulares necessárias aos objetivos da estrutura governada
burocraticamente são distribuídos de forma fixa como deveres oficiais; a
autoridade de dar as ordens necessárias à execução desses deveres oficiais se
distribui de forma estável, sendo rigorosamente delimitada pelas normas
relacionadas com os meios de coerção, físicos, sacerdotais ou outros, que
possam ser colocados à disposição dos funcionários ou autoridades; tomam-se
medidas metódicas para a realização regular e contínua desses deveres e para a
execução dos direitos correspondentes; somente às pessoas que têm qualificações
previstas por um regulamento geral são empregadas.” (WEBER, 1982).
As outras formas específicas segundo
Weber (1982) são as seguintes: Os princípios da hierarquia dos postos e os
níveis de autoridades significam um sistema firmemente ordenado de mando e
subordinação, no qual há uma supervisão dos postos inferiores pelos superiores.
Com o pleno desenvolvimento do tipo burocrático, a hierarquia dos cargos é
organizada monocraticamente; a administração de um cargo moderno se baseia em
documentos escritos, preservados em sua forma original ou em esboço; a
administração burocrática, pelo menos toda a administração especializada - que é
caracteristicamente moderna - pressupõe habitualmente um treinamento
especializado e completo. Isso ocorre cada vez mais com o diretor moderno e o
empregado das empresas privadas, e também com o funcionário do Estado; quando o
cargo está plenamente desenvolvido, a atividade oficial exige a plena capacidade
de trabalho do funcionário, a despeito do fato de ser rigorosamente delimitado
o tempo de permanência na repartição, que lhe é exigido. Normalmente, isso é
apenas o produto de uma longa evolução, tanto nos cargos públicos como
privados. Antigamente, em todos os casos, a situação normal era inversa: os
negócios oficiais eram considerados como uma atividade secundária; e como
última forma específica da burocracia moderna, Weber coloca que o desempenho do
cargo segue regras gerais, mais ou menos estáveis, mais ou menos exaustivas, e
que podem ser aprendidas. O conhecimento dessas regras representa um
aprendizado técnico especial, a que se submetem esses funcionários. Envolve
jurisprudência, ou administração pública ou privada.
Percebe-se, na organização burocrática,
uma vantagem técnica no que diz respeito a superioridade sobre qualquer outra
forma de organização. Essa superioridade é puramente técnica. Um modelo
burocrático bastante desenvolvido pode ser comparado às outras instituições “exatamente
da mesma forma pela qual a máquinas se comparam aos modos não-mecânicos de
produção” (WEBER, 1982). Conceitos como exatidão, rapidez, transparência,
conhecimento dos arquivos, continuidade, unidade, discrição, subordinação
(rigorosa), redução do atrito e dos custos de material e pessoal – são levados
ao ponto ótimo em uma organização pautada no rigor burocrático.
Através desse progresso da estrutura
burocrática, a promoção de uma vida “racionalista” torna-se natural. Porém, a
definição de racionalismo possibilita uma ampla variedade de contextos. Simon
(1965, p. 64) afirma que os fatos e os valores estão relacionados com meios e
fins, respectivamente. No processo decisório escolhem-se as alternativas
consideradas como meios adequados para atingir os fins desejados. Os fins em si
mesmos, porém, são, as mais das vezes, apenas instrumentos para conseguir
objetivos mais distantes. Em consequência, somos levados a conceber uma série,
ou hierarquia, de fins. Isso se coaduna com as ideias de Weber (1982) de que a
burocracia tem um caráter “racional”: regras, meios, fins e objetivos dominam
sua posição.
Assim, para Simon (1965, p. 78), a
racionalidade ocupa-se da seleção de alternativas de comportamento preferidas
de acordo com algum sistema de valores que permite avaliar as consequências
desse comportamento. Mota (1993, p. 50) afirma que a ideia de racionalidade
analítica no processo decisório se revitalizou nas décadas anteriores através
da ênfase dada aos modelos matemáticos de decisão, decorrentes da introdução
dos sistemas de computação nas grandes organizações modernas. De um certo
ângulo, realmente o homem não tem poder computacional para avaliar todas as alternativas
para a tomada de decisão, e mesmo que tivesse, quem poderia afirmar que aquela
alternativa seria a mais viável?
O que pode ser visto na análise do
modelo burocrático é o surgimento de um sistema racional de ação. No entanto,
mesmo com as vantagens técnicas resgatadas pelo modelo e variedade de formas
que a racionalidade pode tomar, a burocracia apresenta algumas disfunções (resistência
à mudança, excesso de formalismo, regras, apego aos procedimentos, etc). Conforme
Mota (1993, p. 71) a realidade contemporânea, altamente mutante, ultrapassa todas
as possibilidades da ação racional exclusiva. Temos, hoje, a necessidade de dar
uma resposta rápida ao ambiente, que torna inócuo os métodos racionais. A
intuição, nesse caso, torna-se um contra ponto a teoria burocrática, pois
aparece como uma forma de reação à imprevisibilidade e às contradições da
empresa moderna. Resta saber, ainda, como se aprimorar a habilidade intuitiva
(MOTA, 1993).
De certa forma a burocracia contribuiu e
continua contribuindo para o desenvolvimento de teorias organizacionais e ainda
é bastante presente em muitas formas de organizações. Há, neste momento, a
necessidade de se mudar o pensar do modelo burocrático, como uma teoria com
princípios, alterando a forma pejorativa do termo, para um repensar alternativo
e necessário.
MOTTA,
P. Gestão contemporânea: a ciência e a
arte de ser dirigente. 3. Ed. Rio de Janeiro: Record, 1993. (Cap. 3)
RAMOS,
A. Administração e contexto brasileiro. Rio de Janeiro: FGV, 1983. (Seções: 2.1; 2.4;
2.5; 5.2; 5.6)
SIMON,
H. Comportamento administrativo. Rio
de Janeiro: FGV, 1965. (Caps. 1-4)
WEBER,
M. Ensaios de sociologia. Rio de
Janeiro: Guanabara, 1982. (Parte II, Cap. VIII)
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