Uma das
ferramentas utilizadas na pesquisa acadêmica que tem seu uso bastante difundido
é o estudo de caso, não obstante seu uso não ser bem compreendido ou avaliado.
Para muitos autores o estudo de caso é mais arte do que ciência. Ultimamente,
artigos e livros têm sido publicados em defesa do estudo de caso. A dificuldade
gira em torno da complexidade em que o assunto é debatido, muitas das vezes
fugindo ao contexto dos estudantes que tem a árdua missão de montar um projeto
de pesquisa.
É preciso conceber algumas
características que diferenciam o estudo de caso de outras pesquisas: estudam
fenômenos em profundidade dentro de seu contexto; são especialmente adequados
ao estudo de processos e exploram os fenômenos com base em vários ângulos.
Estudam fenômenos em profundidade
dentro de seu contexto: uma das vantagens do estudo de caso é que ele estuda as
pessoas em seu ambiente natural, diferenciando-se, assim, do experimento. Muito
requisitado em pesquisas que dão ênfase na análise de fenômenos ou processos
dentro de seu contexto. Bastante adequado quando os limites entre fenômeno e
contexto são claramente evidentes.
Adequados ao estudo de processos: a
capacidade de explorar os processos sociais é um dos pontos fortes dos estudos
de caso. A análise processual, contextual e longitudinal das várias ações e
significados que se manifestam e que são construídos dentro das organizações,
só são permitidos com o emprego do estudo de caso.
Exploram os fenômenos com base em vários
ângulos: possibilidade de considerar um grande número de variáveis e o uso de
diversas fontes. No estudo de caso pode ser incluído a coleta de dados tanto
por instrumentos quantitativos ou qualitativos. A ênfase é maior na utilização
de instrumentos qualitativos – por causa dos tipos de questões que são
levantados na pesquisa.
Podemos dividir os tipos de estudos
de caso em administração no seguinte: casos práticos e teóricos; casos
específicos e genéricos; contribuições do caso a teoria. Nos casos práticos e
teóricos existem variados propósitos para a utilização de estudos de caso na
Administração: casos para o ensino (relato de uma situação vivida nas empresas,
que é levado para sala de aula, envolvendo os alunos no processo de
aprendizagem); casos que se destinam a relatar práticas de organizações ou
oferecer alternativas políticas (os problemas, processos ou soluções são
relevantes para a maioria das organizações); e casos que buscam contribuir para
o avanço do conhecimento na área (desenvolvimento de conhecimento teórico na
área de administração). Quanto aos casos específicos e genéricos, um caso
possui características específicas, como também uma dimensão genérica. Os
estudos de caso podem ser diferenciados conforme Stake (1994) em intrínsecos,
instrumentais e coletivos. Nos intrínsecos o objetivo é entender melhor o caso
particular, tendo em vista o interesse intrínseco em um indivíduo, grupo ou
organização. Os aspectos instrumentais procuram encontrar casos férteis,
medindo seus aspectos fundamentais, demonstrando conexões causais entre seus
elementos e sugerindo algo sobre a generalização potencial de seus resultados. O
uso de casos coletivos, onde o propósito é investigar casos múltiplos,
considera a lógica da replicação e não da amostragem. Quanto a contribuição do
caso a teoria, é proposto cinco maneiras pelas quais o caso pode contribuir
para o pensamento teórico: 1 – estudos ideográficos-configurativos (não leva a
interpretações teóricas gerais, sendo altamente descritivo); 2 – estudos
configurativos-disciplinados (busca-se interpretar padrões encontrados em
postulados teóricos gerais); 3 – caso heurístico (a situação é deliberadamente
escolhida para gerar teoria.) ; 4 – sondagens de plausibilidade (usados para
testar a teoria geral – teste preliminar); e 5 – estudos de caso cruciais (o
pesquisador procura casos “menos prováveis” – para confirmar uma teoria – ou
“mais prováveis” – para invalidade uma teoria).
Como podemos ver, existem diversos
propósitos e formas para desenvolver estudos de caso. Propor uma tipologia que
possa alocar diversas tendências acaba se tornando o grande desafio para o
pesquisador. Na prática, os pesquisadores utilizam a combinação dessas diversas
modalidades. Nas várias áreas existentes hoje em administração, cada uma tem
sua cultura definida no que diz respeito à pesquisa, respeitando sempre o
método científico.
Referência
ROESCH, Sylvia Azevedo. Projetos de
estágio e de pesquisa em administração: guia para estágios, trabalhos de
conclusão, dissertações e estudo de caso. 3. ed., São Paulo: Atlas, 2006. p.
199-241.
Nenhum comentário:
Postar um comentário