O objetivo do artigo - ora
resenhado - foi o de gerar novas evidências empíricas sobre a atividade de
inovação em empresas da indústria brasileira. Para isso, os autores examinaram o
desempenho inovativo de sete instituições nacionais. Tal exame foi feito tanto
à luz de um grupo de indicadores tradicionais quanto à luz de um conjunto de
novos indicadores de inovação. O motivo
pelo estudo esteve relacionado à carência de indicadores mais amplos para se
avaliar a atividade de inovação, especialmente quando o foco de análise são empresas
localizadas em economias emergentes. Especificamente, a criação dos primeiros indicadores
de inovação sistemáticos tem como pano de fundo a lógica do modelo linear de
inovação. Esse é um modelo de entradas (inputs) e saídas (outputs).
De maneira geral, eles referem-se a gastos com P&D, grau de qualificação de
recursos humanos e patentes. Hoje, esses indicadores encontram-se consagrados e
são referência em estudos e pesquisas que buscam mensurar a inovação. Eles
representam os indicadores tradicionais de inovação. Os indicadores de inovação
tradicionais captam apenas um pedaço da atividade de inovação e acabam sendo
incapazes de proporcionar o amplo entendimento de como tal atividade se dá
dentro das firmas. Assim, faz-se necessária a elaboração de novos indicadores de
inovação que permitam a mensuração da atividade de inovação nas firmas de modo a
complementar o exame de entradas e saídas realizado pelos indicadores
tradicionais. Assim, o artigo foi estruturado para examinar três questões
específicas: 1 - a inadequação dos indicadores tradicionais de inovação para
mensurar a atividade de inovação no interior das firmas, em especial firmas de
economias emergentes; 2 - o conjunto de novos indicadores de inovação que podem
complementar os indicadores de inovação tradicionais e ampliar a mensuração da
atividade de inovação no interior das firmas; e 3 - à luz das questões 1 e 2, a
existência de atividades inovadoras em firmas da economia brasileira. A Organização
para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) elaborou um conjunto de
indicadores para avaliação da atividade de inovação em seus países-membros. Esse
conjunto de indicadores deu origem ao Manual Frascati (OCDE, 2002), documento
que estabelece práticas e indicadores padrão para investigações concernentes à
atividade de P&D. Dentre os hoje reconhecidos indicadores de inovação
tradicionais, destacam-se as estatísticas de P&D e patentes. Atualmente, os
indicadores de inovação tradicionais guiam as ações de gestores públicos e
privados, no desenho de políticas e estratégias, e de cientistas e acadêmicos,
na realização de pesquisas e nas atividades de ensino relacionadas à inovação. As
patentes são outro indicador tradicional comumente aceito como uma medida
superior de capacitação tecnológica. Adicionalmente, o não patenteamento também
pode representar uma estratégia das empresas, para evitar que seus concorrentes
tenham acesso detalhado aos caminhos utilizados para se chegar a uma novidade. Assim,
apesar dos méritos e da relevância dos indicadores tradicionais de inovação,
seu escopo de análise se mostra limitado, especialmente em firmas de economias
emergentes. No Brasil, nos últimos anos, emerge um conjunto de estudos e
pesquisas que buscam adequar os indicadores desenvolvidos para firmas de
economias industrializadas à realidade das firmas brasileiras. Entre eles,
destacam-se trabalhos como o da Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento
e Engenharia das Empresas Inovadoras (ANPEI, 2001), a Pesquisa Industrial de
Inovação Tecnológica, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE, 2005), e o estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2005),
desdobramento da própria PINTEC. Esses trabalhos, embora meritosos, ainda estão
muito presos aos indicadores tradicionais. Para a confecção dos novos
indicadores de inovação, o trabalho dos autores buscou apoio de cinco correntes
da teoria econômica: 1 - a teoria
clássica, 2 - a teoria neoclássica, 3 - a teoria schumpeteriana, 4 - a teoria
coaseana da firma e 5 - a teoria evolucionária da mudança econômica. Essas
abordagens, em especial quando tomadas conjuntamente, são aqui consideradas
valiosas para ampliar o entendimento de como o processo de inovação acontece no
interior das firmas e, assim, guiar a criação de um novo conjunto de
indicadores de inovação. Foi apenas nas últimas décadas que as empresas
reconheceram o valor estratégico da inovação para a competitividade. No
entanto, o conceito de inovação e sua relevância para o desenvolvimento
econômico já era, há muito, enfatizado pela literatura econômica. Tanto que a
relevância dos desenvolvimentos científico e tecnológico para a prosperidade
econômica de uma nação é ressaltada nas discussões da teoria econômica clássica. A
escola neoclássica volta-se para o exame do modo como se alocam, de maneira
ótima, os diferentes recursos. Para os neoclássicos, a concorrência é perfeita;
toda produção cria sua própria demanda. O empreendedor
schumpeteriano é o agente que, movido pela vontade de lucrar
extraordinariamente a partir da inovação, vai fomentar o processo de destruição
criadora nas firmas, fato essencial do capitalismo. Na visão coaseana é possível se entender o empreendedor como o agente
que ajuda a redefinir o papel das atividades de planejamento e gestão e
redefinir o papel e a estrutura da firma no sistema capitalista. Por fim, a dinâmica da perspectiva evolucionária
ressalta a necessidade de se examinar o modo como o processo de inovação se
desdobra no interior das firmas. Uma vez que cada firma apresenta uma
trajetória singular de desenvolvimento tecnológico, é importante atentar para
um volume de recursos intraespecíficos nos quais as firmas se apóiam para
empreender atividades inovadoras. Tal fato faz com que ganhem destaque os
seguintes elementos: incerteza, mudança, rotina, aprendizagem, capacidades
tecnológicas e o já mencionado dinamismo. Parafraseando os autores: ora, se a
inovação já representa uma atividade incerta em ambientes institucionalmente
instáveis, a situação se torna ainda mais delicada quando ela é estudada em ambientes
instáveis e desiguais, como em economias emergentes. Resumidamente, os
elementos aqui destacados se mostram interessantes para sedimentar a confecção
de novos indicadores de inovação que ampliem o entendimento do conteúdo e do detalhe
da atividade inovativa no âmbito intraorganizacional. Os elementos destacados,
devido às características enfatizadas, são sintetizados em quatro dimensões de
inovação, a saber: empreendedorismo, estrutura, coordenação e valor. A dimensão empreendedorismo visa a
clarificar o papel de práticas organizacionais empreendedoras na geração de
novas soluções de valor. A dimensão
estrutura trata do conjunto de instrumentos capazes de assegurar um rumo
eficiente à modificação de uma tecnologia qualquer. A dimensão coordenação busca examinar o perfil do esforço de coordenação
empreendedora de uma firma baseado em ações reais ao longo do tempo. Por fim, a dimensão valor busca captar aspectos
ligados às saídas da atividade de inovação que ainda carecem de mensuração.
Para cada uma dessas dimensões, são propostos quatro indicadores, conforme
apresentamos:
Empreendedorismo - Criatividade
- Nº de ideias geradas pelos colaboradores de uma firma e
convertidas em projetos de inovação. Project champions - Nº de
colaboradores em uma firma responsáveis por impulsionar o início de um projeto
de inovação a partir de uma nova ideia.
Capacidade de realização - Nº de
projetos de inovação empreendidos por uma firma que foram concluídos com
sucesso (novo produto lançado no mercado). Controle de erros - Grau de
formalização das práticas de controle de erros nas firmas - escala: (0) não
existe relatório de não conformidade; (1) existe relato informal de não
conformidade; (2) existe relatório formal de não conformidade.
Estrutura - Externalização - Distribuição externa de atividades de inovação para
desenvolvimento de novos produtos - dummy: (0) não há distribuição
externa de atividades de inovação; (1) há a distribuição externa de atividades
de inovação. Interatividade - Percentual de novos produtos originados a
partir da interação de pelo menos duas áreas de uma mesma firma. Recursos
físicos tangíveis - Percentual do volume total investido por uma firma em
dispositivos tangíveis relacionado à atividade de inovação. Aplicações tecnológicas
- Número de novos produtos gerados por uma firma a partir da aplicação de uma
nova tecnologia
Coordenação - Estratégia
de inovação - Existência de estratégias de inovação em uma
firma e seu grau de alinhamento com a estratégia de negócios da mesma - escala:
(0) não existe estratégia de inovação; (1) existe estratégia de inovação não
formalmente deliberada; (2) existe estratégia de inovação formalmente
deliberada e alinhada à estratégia de negócios. Portfólio de projetos de
inovação - Perfil predominante (mais de 50,00%) dos projetos desenvolvidos
por uma firma - escala: (0) projetos de rotina; (1) projetos de inovação
incremental e de curto prazo; (2) projetos de inovação incremental e de longo
prazo; (3) projetos de inovação radical e de curto prazo; ou (4) projetos de
inovação radical e de longo prazo. Cadência - Nº de projetos de inovação
que uma firma é capaz de desenvolver simultaneamente com base em seus próprios
recursos financeiros, físicos, humanos. Parcerias Estratégicas -
Percentual de parceiros estratégicos para a atividade de inovação em relação ao
número total de parceiros de uma firma.
Valor - Lucro operacional
inovativo - Percentual do lucro operacional de
uma firma oriunda de novos produtos. Time to market - Tempo médio
entre a concepção de uma idéia de novo produto e a disponibilização desse novo
produto no mercado. Time to Profit - Tempo médio entre a
concepção de uma idéia de novo produto e a auferição de lucros advindos desse
novo produto. Valor agregado - Percentual do valor agregado por uma
firma devido às atividades de inovação dessa organização.
As evidências empíricas sugerem a existência de atividades
inovadoras nas firmas pesquisadas que extrapolam os aspectos capturados pelos
indicadores tradicionais; existe nas firmas brasileiras capacitação para
inovar. Conforme afirma os autores, parece adequado ressaltar que, quando o
objeto de análise são empresas de economias emergentes, os indicadores
tradicionais, tomados isoladamente, não são adequados para captar atividades
inovativas que se desdobram, muitas vezes informalmente, no interior das
mesmas. Assim, análises baseadas nos indicadores tradicionais devem ser
relativizadas ou, ainda, complementadas por indicadores alternativos - que
podem ser os novos indicadores de inovação. Os autores, por fim, fazem as
seguintes sugestões: priorização do processo de qualificação dos recursos
humanos; provisão de suporte financeiro; e superação da dificuldades de
planejamento e gestão.
Referência: MARINS,
Luciana Manhães; ZAWISLAK, Paulo Antônio. O
Desempenho Inovativo de Sete Firmas Brasileiras à Luz de um Conjunto de Novos
Indicadores de Inovação. In: XXXIV EnANPAD, Rio de Janeiro, set-2010.
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