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terça-feira, 30 de outubro de 2012

RESUMO O Desempenho Inovativo de Sete Firmas Brasileiras à Luz de um Conjunto de Novos Indicadores de Inovação.


O objetivo do artigo - ora resenhado - foi o de gerar novas evidências empíricas sobre a atividade de inovação em empresas da indústria brasileira. Para isso, os autores examinaram o desempenho inovativo de sete instituições nacionais. Tal exame foi feito tanto à luz de um grupo de indicadores tradicionais quanto à luz de um conjunto de novos indicadores de inovação. O motivo pelo estudo esteve relacionado à carência de indicadores mais amplos para se avaliar a atividade de inovação, especialmente quando o foco de análise são empresas localizadas em economias emergentes. Especificamente, a criação dos primeiros indicadores de inovação sistemáticos tem como pano de fundo a lógica do modelo linear de inovação. Esse é um modelo de entradas (inputs) e saídas (outputs). De maneira geral, eles referem-se a gastos com P&D, grau de qualificação de recursos humanos e patentes. Hoje, esses indicadores encontram-se consagrados e são referência em estudos e pesquisas que buscam mensurar a inovação. Eles representam os indicadores tradicionais de inovação. Os indicadores de inovação tradicionais captam apenas um pedaço da atividade de inovação e acabam sendo incapazes de proporcionar o amplo entendimento de como tal atividade se dá dentro das firmas. Assim, faz-se necessária a elaboração de novos indicadores de inovação que permitam a mensuração da atividade de inovação nas firmas de modo a complementar o exame de entradas e saídas realizado pelos indicadores tradicionais. Assim, o artigo foi estruturado para examinar três questões específicas: 1 - a inadequação dos indicadores tradicionais de inovação para mensurar a atividade de inovação no interior das firmas, em especial firmas de economias emergentes; 2 - o conjunto de novos indicadores de inovação que podem complementar os indicadores de inovação tradicionais e ampliar a mensuração da atividade de inovação no interior das firmas; e 3 - à luz das questões 1 e 2, a existência de atividades inovadoras em firmas da economia brasileira. A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) elaborou um conjunto de indicadores para avaliação da atividade de inovação em seus países-membros. Esse conjunto de indicadores deu origem ao Manual Frascati (OCDE, 2002), documento que estabelece práticas e indicadores padrão para investigações concernentes à atividade de P&D. Dentre os hoje reconhecidos indicadores de inovação tradicionais, destacam-se as estatísticas de P&D e patentes. Atualmente, os indicadores de inovação tradicionais guiam as ações de gestores públicos e privados, no desenho de políticas e estratégias, e de cientistas e acadêmicos, na realização de pesquisas e nas atividades de ensino relacionadas à inovação. As patentes são outro indicador tradicional comumente aceito como uma medida superior de capacitação tecnológica. Adicionalmente, o não patenteamento também pode representar uma estratégia das empresas, para evitar que seus concorrentes tenham acesso detalhado aos caminhos utilizados para se chegar a uma novidade. Assim, apesar dos méritos e da relevância dos indicadores tradicionais de inovação, seu escopo de análise se mostra limitado, especialmente em firmas de economias emergentes. No Brasil, nos últimos anos, emerge um conjunto de estudos e pesquisas que buscam adequar os indicadores desenvolvidos para firmas de economias industrializadas à realidade das firmas brasileiras. Entre eles, destacam-se trabalhos como o da Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras (ANPEI, 2001), a Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2005), e o estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2005), desdobramento da própria PINTEC. Esses trabalhos, embora meritosos, ainda estão muito presos aos indicadores tradicionais. Para a confecção dos novos indicadores de inovação, o trabalho dos autores buscou apoio de cinco correntes da teoria econômica: 1 - a teoria clássica, 2 - a teoria neoclássica, 3 - a teoria schumpeteriana, 4 - a teoria coaseana da firma e 5 - a teoria evolucionária da mudança econômica. Essas abordagens, em especial quando tomadas conjuntamente, são aqui consideradas valiosas para ampliar o entendimento de como o processo de inovação acontece no interior das firmas e, assim, guiar a criação de um novo conjunto de indicadores de inovação. Foi apenas nas últimas décadas que as empresas reconheceram o valor estratégico da inovação para a competitividade. No entanto, o conceito de inovação e sua relevância para o desenvolvimento econômico já era, há muito, enfatizado pela literatura econômica. Tanto que a relevância dos desenvolvimentos científico e tecnológico para a prosperidade econômica de uma nação é ressaltada nas discussões da teoria econômica clássica. A escola neoclássica volta-se para o exame do modo como se alocam, de maneira ótima, os diferentes recursos. Para os neoclássicos, a concorrência é perfeita; toda produção cria sua própria demanda. O empreendedor schumpeteriano é o agente que, movido pela vontade de lucrar extraordinariamente a partir da inovação, vai fomentar o processo de destruição criadora nas firmas, fato essencial do capitalismo. Na visão coaseana é possível se entender o empreendedor como o agente que ajuda a redefinir o papel das atividades de planejamento e gestão e redefinir o papel e a estrutura da firma no sistema capitalista. Por fim, a dinâmica da perspectiva evolucionária ressalta a necessidade de se examinar o modo como o processo de inovação se desdobra no interior das firmas. Uma vez que cada firma apresenta uma trajetória singular de desenvolvimento tecnológico, é importante atentar para um volume de recursos intraespecíficos nos quais as firmas se apóiam para empreender atividades inovadoras. Tal fato faz com que ganhem destaque os seguintes elementos: incerteza, mudança, rotina, aprendizagem, capacidades tecnológicas e o já mencionado dinamismo. Parafraseando os autores: ora, se a inovação já representa uma atividade incerta em ambientes institucionalmente instáveis, a situação se torna ainda mais delicada quando ela é estudada em ambientes instáveis e desiguais, como em economias emergentes. Resumidamente, os elementos aqui destacados se mostram interessantes para sedimentar a confecção de novos indicadores de inovação que ampliem o entendimento do conteúdo e do detalhe da atividade inovativa no âmbito intraorganizacional. Os elementos destacados, devido às características enfatizadas, são sintetizados em quatro dimensões de inovação, a saber: empreendedorismo, estrutura, coordenação e valor. A dimensão empreendedorismo visa a clarificar o papel de práticas organizacionais empreendedoras na geração de novas soluções de valor. A dimensão estrutura trata do conjunto de instrumentos capazes de assegurar um rumo eficiente à modificação de uma tecnologia qualquer. A dimensão coordenação busca examinar o perfil do esforço de coordenação empreendedora de uma firma baseado em ações reais ao longo do tempo. Por fim, a dimensão valor busca captar aspectos ligados às saídas da atividade de inovação que ainda carecem de mensuração. Para cada uma dessas dimensões, são propostos quatro indicadores, conforme apresentamos:
Empreendedorismo - Criatividade - Nº de ideias geradas pelos colaboradores de uma firma e convertidas em projetos de inovação. Project champions - Nº de colaboradores em uma firma responsáveis por impulsionar o início de um projeto de inovação a partir de uma nova ideia.
Capacidade de realização - Nº de projetos de inovação empreendidos por uma firma que foram concluídos com sucesso (novo produto lançado no mercado). Controle de erros - Grau de formalização das práticas de controle de erros nas firmas - escala: (0) não existe relatório de não conformidade; (1) existe relato informal de não conformidade; (2) existe relatório formal de não conformidade.
Estrutura - Externalização - Distribuição externa de atividades de inovação para desenvolvimento de novos produtos - dummy: (0) não há distribuição externa de atividades de inovação; (1) há a distribuição externa de atividades de inovação. Interatividade - Percentual de novos produtos originados a partir da interação de pelo menos duas áreas de uma mesma firma. Recursos físicos tangíveis - Percentual do volume total investido por uma firma em dispositivos tangíveis relacionado à atividade de inovação. Aplicações tecnológicas - Número de novos produtos gerados por uma firma a partir da aplicação de uma nova tecnologia
Coordenação - Estratégia de inovação -  Existência de estratégias de inovação em uma firma e seu grau de alinhamento com a estratégia de negócios da mesma - escala: (0) não existe estratégia de inovação; (1) existe estratégia de inovação não formalmente deliberada; (2) existe estratégia de inovação formalmente deliberada e alinhada à estratégia de negócios. Portfólio de projetos de inovação - Perfil predominante (mais de 50,00%) dos projetos desenvolvidos por uma firma - escala: (0) projetos de rotina; (1) projetos de inovação incremental e de curto prazo; (2) projetos de inovação incremental e de longo prazo; (3) projetos de inovação radical e de curto prazo; ou (4) projetos de inovação radical e de longo prazo. Cadência - Nº de projetos de inovação que uma firma é capaz de desenvolver simultaneamente com base em seus próprios recursos financeiros, físicos, humanos. Parcerias Estratégicas - Percentual de parceiros estratégicos para a atividade de inovação em relação ao número total de parceiros de uma firma.
Valor - Lucro operacional inovativo - Percentual do lucro operacional de uma firma oriunda de novos produtos. Time to market - Tempo médio entre a concepção de uma idéia de novo produto e a disponibilização desse novo produto no mercado. Time to Profit - Tempo médio entre a concepção de uma idéia de novo produto e a auferição de lucros advindos desse novo produto. Valor agregado - Percentual do valor agregado por uma firma devido às atividades de inovação dessa organização.
As evidências empíricas sugerem a existência de atividades inovadoras nas firmas pesquisadas que extrapolam os aspectos capturados pelos indicadores tradicionais; existe nas firmas brasileiras capacitação para inovar. Conforme afirma os autores, parece adequado ressaltar que, quando o objeto de análise são empresas de economias emergentes, os indicadores tradicionais, tomados isoladamente, não são adequados para captar atividades inovativas que se desdobram, muitas vezes informalmente, no interior das mesmas. Assim, análises baseadas nos indicadores tradicionais devem ser relativizadas ou, ainda, complementadas por indicadores alternativos - que podem ser os novos indicadores de inovação. Os autores, por fim, fazem as seguintes sugestões: priorização do processo de qualificação dos recursos humanos; provisão de suporte financeiro; e superação da dificuldades de planejamento e gestão.
Referência: MARINS, Luciana Manhães; ZAWISLAK, Paulo Antônio. O Desempenho Inovativo de Sete Firmas Brasileiras à Luz de um Conjunto de Novos Indicadores de Inovação. In: XXXIV EnANPAD, Rio de Janeiro, set-2010.

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