Conforme afirmam Puffal e Costa (2008), a inovação
tem sido apresentada na literatura como uma fonte para a sobrevivência e a
expansão de empresas no mercado. Os autores destacam essa afirmação quando
colocam a produtiva contribuição de Schumpeter (1982), em que um dos motivos
para o desenvolvimento econômico é a inovação.
Quando temos infraestrutura tecnológica, existência
de recursos humanos qualificados, relação de cooperação entre empresas e destas
com outras instituições e um sistema de financiamento e de marco regulatório
apropriado, é criado um ambiente propício para a geração de inovação. O Sistema
Nacional de Inovação (SNI) constitui-se no arranjo institucional adequado a
esse fim. (Puffal e Costa, 2008,
p. 1)
Os sistemas nacionais de inovação sofrem uma
importante influência desempenhada pela interação entre a produção científica e
a produção tecnológica. No contexto dos países desenvolvidos essa interação é
bastante positiva. O mesmo não se pode falar nos países em desenvolvimento,
onde a ideia do SNI ainda não está amadurecida e a interação ainda é baixa.
Assim, nesse contexto, o objetivo da pesquisa dos
autores (Puffal e Costa, 2008, p.
1) é identificar o estágio em que se encontra a relação universidade-empresa.
Desde a década de 1990, a propagação de novas
tecnologias em informação e comunicação e a abertura comercial entre países
mudaram o ambiente competitivo onde as instituições atuam. Em pesquisa feita sobre
padrões tecnológicos e desempenho de firmas industriais brasileiras, De Negri,
Salerno e Castro (2005) apud Puffal e Costa (2008, p. 2) verificaram que a estratégia de inovação e de diferenciação
de produtos é a mais promissora para as organizações.
A ideia de sistema de inovação vem se desenvolvendo
ao longo do tempo, passando por estudos de diversos autores. A acumulação de pesquisas
empíricas em países desenvolvidos em diferentes níveis de agregação mostraram a
inovação como um processo interativo.
O SNI é composto de organizações,
instituições e da interação entre elas. Firmas, universidades, centros de
pesquisa, agências governamentais, organizações políticas entre outros,
formadas por estruturas formais, (...). O conjunto de regras, rotinas e hábitos
estabelecidos, assim como as leis que regulam as relações entre indivíduos e organizações
representam instituições do SNI. (PUFFAL E COSTA, 2008, p. 2)
Dessa forma, de acordo com Nelson (2006) apud Puffal
e Costa (2008, p. 2-3), há duas razões para as empresas ocuparem um importante
papel no processo de inovação: a
primeira é que deve haver conhecimento suficiente para identificar e
delimitar os pontos fortes e fracos da tecnologia que está em vigor já há algum
tempo, bem como possíveis melhorias para orientar um trabalho inovador e com
alto rendimento. A segunda razão,
também presente nas empresas, é a exploração comercial da tecnologia, a qual
necessita de estudos de viabilidade econômica e técnica, coordenação das áreas
de P&D, produção e marketing, com objetivo final de maximizar o potencial
da inovação.
Uma das ideias inerentes ao conceito de sistema de
inovação é a interação vertical e a inovação como um processo interativo.
Dessa forma, os autores trazem o conceito da
tríplice hélice. Este modelo busca capturar múltiplas e recíprocas relações em
diferentes pontos do processo de geração de conhecimento. Divide-se em três
dimensões:
A primeira
dimensão
do modelo é a transformação interna em cada uma das hélices, como o desenvolvimento
de laços laterais entre empresas através de alianças estratégicas ou pelo reconhecimento
das universidades em assumir também responsabilidade no desenvolvimento econômico.
A segunda dimensão importante é a
influência que tem uma hélice sobre a outra, ou seja, governo sobre empresa,
empresa sobre universidade e assim por diante. A terceira dimensão é a criação de uma nova sobreposição trilateral
de redes e organizações, desde a interação entre as três hélices, estabelecida
com o propósito de produzir novas idéias e formatos para o desenvolvimento de
alta tecnologia. (PUFFAL E COSTA, 2008, p. 3)
Puffal e Costa (2008, p. 3) constatam que a universidade
permite o estabelecimento de firmas através de suas incubadoras tecnológicas; a
indústria tem exercido o papel de educador através das chamadas universidades corporativas e o
governo pode ser considerado um investidor em empresas através dos programas de
financiamento a atividades inovadoras.
Baseado nisso, Etzkowitz (2002) apud Puffal e Costa
(2008, p. 4) apresenta três modelos diferentes de relação institucional. No
primeiro modelo são mostradas esferas separadas umas das outras, sem colaboração
entre elas, em que a indústria e a universidade subordinadas ao Governo. No
segundo modelo, as três esferas são separadas uma da outra, atuando de forma
independente. O terceiro modelo é uma combinação dos dois primeiros, em que as
esferas institucionais se sobrepõem e cooperam entre si.
Intensidade e a qualidade das pesquisas conduzidas
por universidades, bem como uma política de distribuição dessas instituições no
país, têm um efeito significativo na inovação regional. É o que indica pesquisa
feita por Fritsch e
Slavtchev (2007) apud Puffal e Costa (2008, p. 4). Outro resultado
importante foi o de que o tamanho da universidade e seu orçamento não têm
correlação significativa com a inovação regional. No entanto, os recursos
externos obtidos apresentam relação positiva. Isto, na visão dos autores, pode
ser um indicador da importância da interação entre universidade, empresa e governo.
Quando há uma cooperação entre universidade e
empresa, podem ocorrer benefícios como afirmam Costa e Cunha (2001) apud Puffal
e Costa (2008, p. 5),
Para
as universidades,
os autores citam como aqueles mais expressivos a maior possibilidade em captar
recursos adicionais para a pesquisa básica e aplicada e proporcionar um ensino
vinculado aos avanços tecnológicos. Para
as empresas, a capacidade em desenvolver tecnologia com menor investimento,
em menor espaço de tempo e com menores riscos. O governo, por sua vez, vê facilitado o fomento do desenvolvimento
do país através de menor nível de investimento em infraestrutura e em
capacidade instalada de pesquisa e desenvolvimento.
Para fazer uma avaliação de como a interação
universidade-empresa tem sido estudada em âmbito internacional, os autores
realizaram um levantamento na base de dados ABI-INFORM, onde buscaram identificar
publicações que contemplassem estudos sobre o tema. No caso nacional, foi
realizado levantamento de dados da Pesquisa de Inovação Tecnológica (PINTEC),
cuja realização está a cargo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). Puffal e Costa (2008, p. 6) afirmam que esses dados permitem a
construção de indicadores, e que a partir deles podemos fazer uma comparação, a
nível internacional, das atividades de inovação brasileiras.
Um ponto importante deixado pelos resultados da
pesquisa refere-se à falta de recursos pelas instituições, o que as impede de
seguirem com o processo de inovação.
Bem interessante é a afirmação de De Negri, Salerno
e Castro (2005) apud Puffal e Costa (2008, p. 10) de que a inovação tem correlação
positiva com o resultado financeiro. Isto leva a um espiral descendente, onde a
empresa que não investe em inovação por não ter recurso, passa a não ter recurso
por falta de inovação.
Para esses autores, as empresas brasileiras não se
esforçam em inovação de modo a aumentarem suas taxas de crescimento e se
inserirem no mercado externo. Uma das maneiras para isso acontecer seria com a
constituição de um Sistema Nacional de Inovação que suporte as atividades das empresas
nessa direção.
Já há consenso na academia e entre policy makers de
que a inovação é fator relevante na determinação da riqueza das nações e na
competitividade de empresas. (PUFFAL E COSTA, 2008, p. 12)
A inovação tem sua importância para o progresso
econômico e a performance de empresas. No entanto, os instrumentos empregados na
atualidade ainda carecem de uma padronização.
Puffal e Costa (2008, p. 13) fazem uma comparação do
estágio de desenvolvimento tecnológico do Brasil com a comunidade internacional
e mostram como resultado que ele aparece entre os países com baixo investimento
em ciência e tecnologia, sendo que esses gastos são ainda predominantemente
estatais.
Concluem, então, que isso é mais um motivo para que
o país desenvolva um sistema nacional de
inovação com maior maturidade. Não obstante esse quadro vim se modificado
nos últimos anos.
Parcerias com universidades e instituições de
pesquisa é um importante passo superar as dificuldades individuais na inovação.
Algo que deva ser desenvolvido pelas empresas brasileiras. “Esse quadro
existente no país indica que há um amplo caminho a ser explorado na cooperação
entre empresas e universidades, de modo a superar o atraso tecnológico relativo
de nossa estrutura produtiva.” (PUFFAL E COSTA, 2008, p. 13)
Referência
PUFFAL,
Daniel Pedro; COSTA, Achyles Barcelos da. A
interação universidade-empresa e a inovação: resenha de estudos e a
situação brasileira. In: XXV Simpósio de Gestão da Inovação Tecnológica, 2008.
Nenhum comentário:
Postar um comentário