RESENHA ABORDAGEM CLÁSSICA
Na
segunda metade do século XIX, os métodos de comercialização e de
industrialização começam a ficar mais sofisticados, forçando as organizações a
refletirem e a focarem nos seus métodos e processos de trabalho. Nesse primeiro
momento, a reflexão era aumentar a produção por meio da racionalização do
trabalho (Taylor) e aumentar a eficiência da empresa por meio de sua
organização e da aplicação de princípios gerais da Administração em bases
científicas (Fayol). Segundo Beynon (1995) o século XX foi o século da produção
em massa. Sloan (1965) acrescenta que no final da primeira década do século XX,
ocorreram dois grandes acontecimentos no progresso da indústria
automobilística: a constituição da General Motors por Willian C. Durant
(1861-1947) e o anuncio do modelo T por Henry Ford (1863-1947).
Um grande seguidor das ideias de Taylor (1856-1917)
foi Henry Ford (1863-1947). Aplicando os princípios de intensificação,
economicidade e produtividade Ford conseguiu triunfar, segundo Beynon (1995),
graças à linha de montagem movida a volante magnético. Era tudo muito
científico. Mas o desejo de continuar naquele tipo de emprego não era bem visto
por algumas classes de trabalhadores. As taxas de rotatividade da mão-de-obra
eram altíssimas. Não se adquiriam direitos por tempo de serviço. As oficinas
eram dirigidas pelos contramestres a mão-de-ferro e justiça totalmente
arbitrária. Os padrões de segurança eram estarrecedores, e os acidentes fatais,
corriqueiros. Um ótimo local para fazer com que o sindicalismo e o radicalismo
emergissem.
Taylor (1856-19170) fundou o movimento
conhecido como administração científica: máximo de prosperidade para empregador
e máximo de prosperidade para o empregado. Prosperidade nesse sentido tinha uma
perspectiva diferente para ambos os lados; ocasionando, por muitas vezes, o
conflito entre empregador e empregado. Para dirimir esses conflitos, Taylor
propõe quatro grandes “pressupostos”: 1) O desenvolvimento de uma verdadeira
ciência do trabalho, em que seria necessária uma investigação científica para
se chegar a uma jornada de trabalho justa. O empregador, neste caso, saberia
qual a quantidade de trabalho ideal a ser realizada pelo trabalhador, e este
receberia um bom pagamento, já que este busca a melhoria
de sua remuneração; 2) A seleção científica e o desenvolvimento progressivo do
trabalhador. Os trabalhadores, nesse caso, eram cientificamente selecionados
para garantir que tenham as qualidades físicas e intelectuais necessárias para
a produção; 3) A conexão da ciência do trabalho e trabalhadores cientificamente
selecionados e treinados; 4) A constante e íntima cooperação de gestores e
trabalhadores. Cooperação esta que eliminaria os conflitos, já que os gestores
e operários estariam cientes de suas funções e responsabilidades.
Alguns sinais de que parte desse modelo
vinhesse a ser criticado veio com Ford. Ele
não dava importância com os efeitos do trabalho enfadonho sobre a vida dos seus
empregados. Quem mandava eram as máquinas, e os homens tinham de
acompanhar-lhes o ritmo. Com isso, problemas bem claros vinham à tona:
rotatividade da mão-de-obra, ameaça de sindicalismo e até insurreição. O modelo
T que Ford tanto se convencia de barato e convencional, não vendia. Barateou
ainda mais o carro, mas para isso existia um preço: aumento no ritmo do
trabalho. Comparando-se a situação da Ford com a da General Motors,
visualizamos que os respectivos processos de organização estavam situados em
pólos opostos, Ford sendo em extremo centralizador, enquanto Durant se revelava
descentralizador. Conforme Sloan (1965), eram diferentes também quanto aos
produtos e à maneira de entrar no mercado. Durant inclinava-se no sentido de
ter variedade de carros, que era a inclinação da indústria na época e que se
mostrou preponderante nos dias atuais. Isso se coaduna com a ideias
apresentadas por Souza e Aguiar (2010) de que uma releitura de Fayol pode
apresentá-lo como um referencial para a época: executivo dotado de
flexibilidade, com foco na estratégia, trabalhando dentro de um contexto
situacional, antecipando tendências que somente muito depois seriam
disseminadas por outros pesquisadores, que no caso da General
Motors, essas ideias já estavam absorvidas.
Passado
quase um século da publicação de sua obra-prima, Administration Industrielle
et Générale (AIG), Fayol (1841-1925) ainda causa algum tipo de discussão.
Fayol geralmente é lembrado apenas como o Pai da Escola Clássica de
Administração e isso não representa a clareza necessária de sua efetiva
contribuição para a Ciência da Administração nem lhe faz justiça, como enfatiza
Souza e Aguiar (2010).
Fayol
desenvolveu os Princípios Gerais de Administração os quais foram apresentados para uma audiência formada
por colegas da indústria mineral francesa. Conforme esclarecem Souza e Aguiar
(2010), esse texto de Fayol apresenta uma análise dos fundamentos de sua teoria
administrativa, contrariando a crença corrente de que, no momento histórico em
que viveu e trabalhou, a teoria administrativa encontrava-se ainda em seus
primórdios. Assim, fayol esboça seus 14 princípios da gerência: divisão do
trabalho (a especialização torna o indivíduo mais produtivo); autoridade
(direito de exercer o comando, que deve ser acompanhado da responsabilidade
equivalente para seu exercício); disciplina (obediência dos empregados
vinculada a uma liderança competente); unidade de comando (cada empregado com
apenas um chefe); unidade de direção (pessoas em uma mesma atividade devem ter
o mesmo objetivo definidos em um único plano); subordinação do interesse individual
ao interesse coletivo (as metas e objetivos devem ter a preferencia);
remuneração (pagamento é um fator motivacional); centralização ou
descentralização (esta é uma questão de grau, que depende das condições do
negócio e da qualidade do pessoal); cadeia escalar (a hierarquia é necessária
para a unidade de direção, mas a comunicação lateral também é fundamental,
desde que os superiores tenham conhecimento de sua ocorrência); ordem (diz
respeito a ordem material e ordem social como necessárias); equidade
(amabilidade e justiça é essencial no tratamento dos empregados); estabilidade
de pessoal (é essencial devido ao tempo e custos envolvidos no treinamento de
bons gestores); iniciativa(fonte de força para a organização); e, por fim, o
espírito de equipe (a gerência deve manter elevado o moral dos empregados).
Quando analisada, a abordagem clássica
sofre duras críticas por parte de muitos autores. Não obstante as críticas
focarem no ser humano como sendo uma peça para a máquina funcionar, as
contribuições de Taylor e Fayol são de grande importância para o entendimento
do desenvolvimento da administração. A importância de Fayol se deve a sua
contribuição para a definição do que é gerência. Taylor há muito dizia que não
deveria haver limites para os ganhos de um trabalhador altamente produtivo.
Revisitar a abordagem clássica e trazer o que há de melhor desses mundos
torna-se essencial para o conhecimento das organizações.
Referências
BEYNON,
H. Trabalhando para a Ford:
trabalhadores e sindicalistas na indústria automobilística. São Paulo: Paz e Terra, 1995. (Cap. 1)
SCHACHTER, Hindy L. The role played by Frederick Taylor in the rise of the academic
management fields. Journal of Management History, vol.16 nº 4, pp. 437-448,
2010
SLOAN,
A. Minha Vida na General Motors. Rio
de Janeiro: Record, 1965. (Cap. 1-4).
SOUZA,
Edson M. de; AGUIAR, Afrânio Carvalho. Publicações
Póstumas de Henri Fayol: Revisitando sua Teoria Administrativa. In:
ENCONTRO DE ESTUDOS ORGANIZACIONAIS DA ANPAD-ENEO-ENEO, VI, 2010,
Florianópolis-SC. Anais... Florianópolis: ENEO, 2010, 1 CD ROM.
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