Conforme afirmam Kato, Gobara e Rossoni (2008), a
inovação é papel fundamental no desenvolvimento econômico de um país. De certa
forma, e em outra palavras, para que haja o desenvolvimento econômico de um
país, é necessário que as organizações adotem uma postura pela busca dessa
inovação. “A cada dia que passa cresce o número de empresas que veem na
inovação uma oportunidade de elevar a sua competitividade e sobreviver em um
mercado cada vez mais dinâmico e incerto.” (KATO, GOBARA E ROSSONI, 2008)
A inovação, nesse caso, pode ser vista como
estratégia para empresa ganhar novos mercados, reduzir custos e desenvolver
vantagens competitivas essenciais para o setor a qual está inserida. A forma
como a empresa irá se relacionar com os diversos atores, contribuirá para
formação de alianças estratégicas, o que acarreta na cooperação entre grupos para o alcance de objetivos comuns.
Pode-se afirmar que essa ideia de cooperação
interorganizacional advém de uma crítica a visão schumpeteriana que afirma a
existência de um agente empreendedor que introduz inovações e desestabiliza o
estado de equilíbrio até então existente na estrutura econômica. No entanto, a
nova ordem mundial espelha uma realidade na qual os grandes desestabilizadores
da estrutura vigente constituem não mais indivíduos isolados, mas grupos
empreendedores que introduzem inovações estabelecendo um novo paradigma na
sociedade. (KATO, GOBARA E ROSSONI, 2008, p. 1)
Assim,
corroborando com a ideia dos autores (KATO et
al, 2008), nota-se que os setores
industriais ganham cada vez mais importância devido as suas características
que lhe são peculiares.
É
a partir de uma análise das cooperações nos diversos setores industriais que os
autores (KATO et al, 2008) deixam
claro a relevância do estudo, no que diz respeito ao tema inovação. Assim, identificar
padrões de cooperação entre os diversos setores da indústria brasileira, com
base nos dados fornecidos pela Pesquisa Nacional de Inovação Tecnológica 2001-2003
(PINTEC), torna-se o objetivo proposto pela pesquisa.
O conceito de inovação adotado para
a pesquisa foi o do PINTEC.
Inovação tecnológica refere-se a produto
e/ou processo novo (ou substancialmente aprimorado) para a empresa, não sendo,
necessariamente, novo para o mercado/setor de atuação, podendo ter sido
desenvolvida pela empresa ou por outra empresa/instituição. (IBGE, 2003, p. 19,
apud KATO et al, 2008, p. 2)
Outros conceitos de inovação, como o de Schumpeter
(1985) apud Kato et al (2008, p. 2),
nos traz a ideia de viabilidade econômica na introdução de novos processos
produtivos. A partir do momento em que essa mudança desestabiliza a economia e
provoca uma reorganização social econômica, estamos vendo a inovação acontecer.
Para evitar confusões nos termos, necessário se faz diferenciar invenção de
inovação. O primeiro, conforme Perez (2004) apud Kato el al (2008, p. 2), ocorre dentro da esfera técnico-científica. Já
o segundo é um feito econômico cuja introdução comercial ocorre na esfera
técnico-econômica, sendo seu futuro determinado pelo mercado.
Esta autora ainda divide o conceito de inovação em radical
e incremental. Uma inovação radical
pode ser considerada como a introdução de um produto ou processo ainda não
existentes na empresa. Já a inovação
incremental se constitui em uma melhoria contínua em produtos e processos
existentes.
Neste contexto, o IBGE (2003) apud Kato el al (2008, p. 2), diferencia inovação de produto de inovação de processo. Inovação de produto são os produtos
tecnologicamente novos e produtos tecnologicamente aperfeiçoados. Inovação de processo é a implementação
de um método de produção ou de entrega de produtos novos ou substancialmente
aperfeiçoado.
É dessa forma que as organizações irão perceber, ao
inovarem ou tentarem estabelecer estratégia de inovação, que precisam buscar cooperação com outras empresas
para reunir as suas competências e reduzir custos em prol de um objetivo comum.
Essa cooperação com outras empresas ou atores
sociais acaba se tornando fundamental, pois a empresa encontra um ambiente
propício para se manter competitiva no mercado. “O ambiente altamente competitivo
que as empresas estão inseridas e a velocidade na transferência das informações
são fatores significativos para a crescente formação de redes de cooperação.” (PORTO,
PRADO E PLONSKI, 2003, apud Kato el al (2008,
p. 3),
Dentre os diversos conceitos do termo cooperação, a
pesquisa adotou - assim como o de inovação - o utilizado pelo PINTEC.
participação ativa da empresa em
projetos conjuntos de P&D e outros projetos de inovação com outra
organização (empresa ou instituição), o que não implica, necessariamente, que
as partes envolvidas obtenham benefícios comerciais imediatos. A simples
contratação de serviços de outra organização, sem a sua colaboração ativa, não
é considerada cooperação (IBGE, 2003, p.22, apud KATO et al, 2008, p. 3).
Na visão de
outros autores a cooperação constitui ações que as organizações realizam em
conjunto, com o objetivo de obter benefícios igualmente compartilhados,
resultando em um aumento da eficiência coletiva e reunindo competências
essenciais complementares, similares ou diferentes, de modo a atender
oportunidades de mercado e reduzir dificuldades para alcançar o desenvolvimento
tecnológico. (Serra e Leite, 2003;
Silva, 2004 apud KATO et al, 2008,
p. 3)
Percebemos que os diversos agentes podem cooperar
com o intuito de alcançar diferentes resultados. A cooperação, assim, pode ser
vista como um mecanismo que contribui para o processo inovativo na busca de um
maior desenvolvimento científico e tecnológico das organização. Um alerta: tamanho
da firma, a proximidade geográfica e a confiança entre as partes são fatores
importantes que devem ser considerados quando o assunto é cooperação
tecnológica.
Serra e Leite (2003) apud Kato et al (2008) colocam que o processo de cooperação pode ocorrer de
diferentes formas: primeiro, em função da quantidade de empresas que cooperam e,
segundo, na relação estabelecida entre os
agentes econômicos no que tange aos estágios da cadeia produtiva. Surge, então,
a seguinte tipologia: cooperação bilateral
ou multilateral e cooperação horizontal ou vertical. A cooperação bilateral envolve o relacionamento entre apenas duas
empresas e o multilateral abrange um
número maior de empresas. Cooperação
horizontal envolve empresas do mesmo estágio da cadeia (concorrentes) e a cooperação vertical engloba empresas em
diferentes elos da cadeia – clientes e fornecedores.
Os clientes (consumidores), fornecedores,
concorrentes, outra empresa do grupo, empresas de consultoria, universidades e
institutos de pesquisa e centros de capacitação profissional e assistência
técnica são os tipos de cooperações a serem analisados pelo estudo.
Conforme
Katos et al (2008) a cooperação entre
organizações representa uma oportunidade para que as empresas possam garantir a
sua competitividade e agir de forma estratégica, principalmente no que tange ao
desenvolvimento de projetos ligados a inovação.
Para análise dos setores, Pavitt (1984) apud Katos et al (2008) classifica os setores em:
1
- Firmas dominadas pelos fornecedores - encontram-se
principalmente nos setores tradicionais da economia. São geralmente pequenas e
suas capacitações de engenharia e P&D possuem pouca projeção. Suas
trajetórias tecnológicas são definidas por redução de custos. A maior parte das
inovações vem dos fornecedores de equipamentos, maquinários, materiais e
insumos. Aqui, as inovações de processo se sobressaem mais que as de produto. Exemplos:
produtos têxteis, confecção, artigos de couro e calçados, produtos de madeira,
editoração, artigos de borracha e plástico, móveis e reciclagem.
2
- Firmas intensiva em produção - possuem forte relação à produção em massa, de
larga escala, ou desenvolvimento por meio de linhas de montagem. Pavitt (1984) apud
Katos et al (2008) divide essa
categoria em 2.1 - produtores intensivos
em escala e 2.2 - fornecedores especializados.
2.1
- Os setores intensivos em escala - são parte de um
sistema produtivo complexo, no qual os riscos de falhas associados a mudanças radicais
são potencialmente custosos. Por isso, as novas tecnologias se desenvolvem de
forma incremental, com base em experiências operacionais anteriores e no
aprimoramento de componentes, máquinas e subsistemas. Nesses setores, a
tecnologia é desenvolvida prioritariamente dentro das próprias empresas e as firmas
produzem uma proporção relativamente grande de inovações de processo, que predominam
em relação as de produtos, para as quais elas destinam uma proporção relativamente
elevada de seus próprios recursos inovativos. Caracterizam-se, também, por serem
firmas relativamente grandes, com um nível relativamente elevado de
diversificação tecnológica vertical na direção de equipamentos relacionados às
suas próprias tecnologias de processo e dão uma contribuição relativamente
grande às inovações produzidas em seus setores de atividade principal. Liderança
tecnológica refletida na capacidade de projetar, construir e operar processos
contínuos de larga escala, e integrar processos de montagem de larga escala de
modo a produzir um produto final. Essa liderança é mantida por know-how e
segredo industrial a respeito das inovações de processo e mediante as inevitáveis
defasagens técnicas de imitação, bem como por meio de patentes. Exemplos: produtos
alimentícios e bebidas, produtos de fumo, refino de petróleo, minerais não
metálicos, produtos de metal e veículos.
2.2
- fornecedores especializados são firmas
relativamente pequenas, sua diversificação tecnológica é relativamente pequena
seja verticalmente ou não e são especializadas no fornecimento de insumos para
grandes empresas. Elas também produzem uma proporção relativamente grande de
suas próprias tecnologias de processo, mas o foco principal de suas atividades inovativas é a geração de inovações
de produto para uso em outros setores. Para os fornecedores especializados
não estão disponíveis na mesma proporção, segredos, know how de
processo, e defasagens técnicas extensas como meio de apropriação da
tecnologia. Exemplos: máquinas e equipamentos e instrumentação
3
- As firmas baseadas em ciência - têm como fonte
principal de tecnologia as atividades de P&D realizadas nos laboratórios no
interior das firmas desses setores, e é altamente dependente do desenvolvimento
das ciências subjacentes nas universidades e em outros estabelecimentos. Apropriam-se
da liderança inovativa por meio de patentes, segredos, defasagens técnicas
naturais e habilidades específicas à firma. O rico escopo das aplicações baseadas
nas ciências subjacentes implicou que as firmas inovadoras e bem-sucedidas
nesses setores tivessem crescido rapidamente. Produzem uma proporção
relativamente grande de suas próprias tecnologias de processo, bem como uma
elevada proporção de inovações de produto que serão utilizadas em outros
setores. Sua diversificação é principalmente concêntrica, isto é, de
conglomerado, e elas produzem uma proporção relativamente grande de todas as
inovações geradas em seus setores de atividade. Exemplos: produtos químicos,
informática, materiais elétricos, materiais eletrônicos e outros equipamentos
de transporte.
Esta pesquisa possibilitou identificar os padrões de
cooperação entre os setores da indústria de transformação brasileira e também
descobrir quais setores que mais cooperaram no período pesquisado.
O resultado geral dessa pesquisa mostra que no
Brasil ocorrem poucas relações de cooperação para o desenvolvimento de
inovações de produto ou processo, sendo restrita a apenas poucos setores
industriais.
Utilizando-se da tipologia de Pavitt, os autores
verificaram que, no Brasil, os setores intensivos em produção, mais
especificamente, intensivos em escala, possuem um índice de cooperação
significativo, pois dos cinco setores identificados com um alto padrão de cooperação,
três se enquadram nesta categoria. Assim, cada setor apresenta oportunidades tecnológicas
distintas, assim como diferem em suas condições de cumulatividade e apropriação
das inovações realizadas. Ao final, o autor faz algumas sugestões:
1 - Estudar de forma mais detalhada e aprofundada a
estrutura de cada setor da indústria brasileira, tanto os setores com alto
índice de cooperação quanto os que possuem um índice baixo, para diagnosticar a
razão da diferença dos padrões de cooperação entre os setores, para fornecer um
embasamento teórico mais aprofundado a respeito do assunto.
2 - Conduzir uma pesquisa longitudinal com os dados
da PINTEC para acompanhar a evolução desses padrões de cooperação entre setores
na indústria brasileira e verificar se houve crescimento ou não com relação a
este tema; e
3 - Comparar os resultados obtidos nesta pesquisa
com os indicadores de cooperação de outros países para se obter uma referência
do Brasil em relação ao contexto global.
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