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terça-feira, 30 de outubro de 2012

RESUMO do artigo: Padrões de cooperação tecnológica entre setores na indústria brasileira: Uma análise quantitativa dos dados da PINTEC 2001-2003


Conforme afirmam Kato, Gobara e Rossoni (2008), a inovação é papel fundamental no desenvolvimento econômico de um país. De certa forma, e em outra palavras, para que haja o desenvolvimento econômico de um país, é necessário que as organizações adotem uma postura pela busca dessa inovação. “A cada dia que passa cresce o número de empresas que veem na inovação uma oportunidade de elevar a sua competitividade e sobreviver em um mercado cada vez mais dinâmico e incerto.” (KATO, GOBARA E ROSSONI, 2008)
A inovação, nesse caso, pode ser vista como estratégia para empresa ganhar novos mercados, reduzir custos e desenvolver vantagens competitivas essenciais para o setor a qual está inserida. A forma como a empresa irá se relacionar com os diversos atores, contribuirá para formação de alianças estratégicas, o que acarreta na cooperação entre grupos para o alcance de objetivos comuns.

Pode-se afirmar que essa ideia de cooperação interorganizacional advém de uma crítica a visão schumpeteriana que afirma a existência de um agente empreendedor que introduz inovações e desestabiliza o estado de equilíbrio até então existente na estrutura econômica. No entanto, a nova ordem mundial espelha uma realidade na qual os grandes desestabilizadores da estrutura vigente constituem não mais indivíduos isolados, mas grupos empreendedores que introduzem inovações estabelecendo um novo paradigma na sociedade. (KATO, GOBARA E ROSSONI, 2008, p. 1)

            Assim, corroborando com a ideia dos autores (KATO et al, 2008), nota-se que os setores industriais ganham cada vez mais importância devido as suas características que lhe são peculiares.
            É a partir de uma análise das cooperações nos diversos setores industriais que os autores (KATO et al, 2008) deixam claro a relevância do estudo, no que diz respeito ao tema inovação. Assim, identificar padrões de cooperação entre os diversos setores da indústria brasileira, com base nos dados fornecidos pela Pesquisa Nacional de Inovação Tecnológica 2001-2003 (PINTEC), torna-se o objetivo proposto pela pesquisa.
            O conceito de inovação adotado para a pesquisa foi o do PINTEC.

Inovação tecnológica refere-se a produto e/ou processo novo (ou substancialmente aprimorado) para a empresa, não sendo, necessariamente, novo para o mercado/setor de atuação, podendo ter sido desenvolvida pela empresa ou por outra empresa/instituição. (IBGE, 2003, p. 19, apud KATO et al, 2008, p. 2)

Outros conceitos de inovação, como o de Schumpeter (1985) apud Kato et al (2008, p. 2), nos traz a ideia de viabilidade econômica na introdução de novos processos produtivos. A partir do momento em que essa mudança desestabiliza a economia e provoca uma reorganização social econômica, estamos vendo a inovação acontecer. Para evitar confusões nos termos, necessário se faz diferenciar invenção de inovação. O primeiro, conforme Perez (2004) apud Kato el al (2008, p. 2), ocorre dentro da esfera técnico-científica. Já o segundo é um feito econômico cuja introdução comercial ocorre na esfera técnico-econômica, sendo seu futuro determinado pelo mercado.
Esta autora ainda divide o conceito de inovação em radical e incremental. Uma inovação radical pode ser considerada como a introdução de um produto ou processo ainda não existentes na empresa. Já a inovação incremental se constitui em uma melhoria contínua em produtos e processos existentes.
Neste contexto, o IBGE (2003) apud Kato el al (2008, p. 2), diferencia inovação de produto de inovação de processo. Inovação de produto são os produtos tecnologicamente novos e produtos tecnologicamente aperfeiçoados. Inovação de processo é a implementação de um método de produção ou de entrega de produtos novos ou substancialmente aperfeiçoado.
É dessa forma que as organizações irão perceber, ao inovarem ou tentarem estabelecer estratégia de inovação, que precisam buscar cooperação com outras empresas para reunir as suas competências e reduzir custos em prol de um objetivo comum.
Essa cooperação com outras empresas ou atores sociais acaba se tornando fundamental, pois a empresa encontra um ambiente propício para se manter competitiva no mercado. “O ambiente altamente competitivo que as empresas estão inseridas e a velocidade na transferência das informações são fatores significativos para a crescente formação de redes de cooperação.” (PORTO, PRADO E PLONSKI, 2003, apud Kato el al (2008, p. 3),
Dentre os diversos conceitos do termo cooperação, a pesquisa adotou - assim como o de inovação - o utilizado pelo PINTEC.
participação ativa da empresa em projetos conjuntos de P&D e outros projetos de inovação com outra organização (empresa ou instituição), o que não implica, necessariamente, que as partes envolvidas obtenham benefícios comerciais imediatos. A simples contratação de serviços de outra organização, sem a sua colaboração ativa, não é considerada cooperação (IBGE, 2003, p.22, apud KATO et al, 2008, p. 3).

 Na visão de outros autores a cooperação constitui ações que as organizações realizam em conjunto, com o objetivo de obter benefícios igualmente compartilhados, resultando em um aumento da eficiência coletiva e reunindo competências essenciais complementares, similares ou diferentes, de modo a atender oportunidades de mercado e reduzir dificuldades para alcançar o desenvolvimento tecnológico. (Serra e Leite, 2003; Silva, 2004 apud KATO et al, 2008, p. 3)
Percebemos que os diversos agentes podem cooperar com o intuito de alcançar diferentes resultados. A cooperação, assim, pode ser vista como um mecanismo que contribui para o processo inovativo na busca de um maior desenvolvimento científico e tecnológico das organização. Um alerta: tamanho da firma, a proximidade geográfica e a confiança entre as partes são fatores importantes que devem ser considerados quando o assunto é cooperação tecnológica.
Serra e Leite (2003) apud Kato et al (2008) colocam que o processo de cooperação pode ocorrer de diferentes formas: primeiro, em função da quantidade de empresas que cooperam e, segundo, na relação estabelecida entre os agentes econômicos no que tange aos estágios da cadeia produtiva. Surge, então, a seguinte tipologia: cooperação bilateral ou multilateral e cooperação horizontal ou vertical. A cooperação bilateral envolve o relacionamento entre apenas duas empresas e o multilateral abrange um número maior de empresas. Cooperação horizontal envolve empresas do mesmo estágio da cadeia (concorrentes) e a cooperação vertical engloba empresas em diferentes elos da cadeia – clientes e fornecedores.
Os clientes (consumidores), fornecedores, concorrentes, outra empresa do grupo, empresas de consultoria, universidades e institutos de pesquisa e centros de capacitação profissional e assistência técnica são os tipos de cooperações a serem analisados pelo estudo.
 Conforme Katos et al (2008) a cooperação entre organizações representa uma oportunidade para que as empresas possam garantir a sua competitividade e agir de forma estratégica, principalmente no que tange ao desenvolvimento de projetos ligados a inovação.
Para análise dos setores, Pavitt (1984) apud Katos et al (2008) classifica os setores em:
1 - Firmas dominadas pelos fornecedores - encontram-se principalmente nos setores tradicionais da economia. São geralmente pequenas e suas capacitações de engenharia e P&D possuem pouca projeção. Suas trajetórias tecnológicas são definidas por redução de custos. A maior parte das inovações vem dos fornecedores de equipamentos, maquinários, materiais e insumos. Aqui, as inovações de processo se sobressaem mais que as de produto. Exemplos: produtos têxteis, confecção, artigos de couro e calçados, produtos de madeira, editoração, artigos de borracha e plástico, móveis e reciclagem.
2 - Firmas intensiva em produção  - possuem forte relação à produção em massa, de larga escala, ou desenvolvimento por meio de linhas de montagem. Pavitt (1984) apud Katos et al (2008) divide essa categoria em 2.1 - produtores intensivos em escala e 2.2 - fornecedores especializados.
2.1 - Os setores intensivos em escala - são parte de um sistema produtivo complexo, no qual os riscos de falhas associados a mudanças radicais são potencialmente custosos. Por isso, as novas tecnologias se desenvolvem de forma incremental, com base em experiências operacionais anteriores e no aprimoramento de componentes, máquinas e subsistemas. Nesses setores, a tecnologia é desenvolvida prioritariamente dentro das próprias empresas e as firmas produzem uma proporção relativamente grande de inovações de processo, que predominam em relação as de produtos, para as quais elas destinam uma proporção relativamente elevada de seus próprios recursos inovativos. Caracterizam-se, também, por serem firmas relativamente grandes, com um nível relativamente elevado de diversificação tecnológica vertical na direção de equipamentos relacionados às suas próprias tecnologias de processo e dão uma contribuição relativamente grande às inovações produzidas em seus setores de atividade principal. Liderança tecnológica refletida na capacidade de projetar, construir e operar processos contínuos de larga escala, e integrar processos de montagem de larga escala de modo a produzir um produto final. Essa liderança é mantida por know-how e segredo industrial a respeito das inovações de processo e mediante as inevitáveis defasagens técnicas de imitação, bem como por meio de patentes. Exemplos: produtos alimentícios e bebidas, produtos de fumo, refino de petróleo, minerais não metálicos, produtos de metal e veículos.
2.2 - fornecedores especializados são firmas relativamente pequenas, sua diversificação tecnológica é relativamente pequena seja verticalmente ou não e são especializadas no fornecimento de insumos para grandes empresas. Elas também produzem uma proporção relativamente grande de suas próprias tecnologias de processo, mas o foco principal de suas atividades inovativas é a geração de inovações de produto para uso em outros setores. Para os fornecedores especializados não estão disponíveis na mesma proporção, segredos, know how de processo, e defasagens técnicas extensas como meio de apropriação da tecnologia. Exemplos: máquinas e equipamentos e instrumentação
3 - As firmas baseadas em ciência - têm como fonte principal de tecnologia as atividades de P&D realizadas nos laboratórios no interior das firmas desses setores, e é altamente dependente do desenvolvimento das ciências subjacentes nas universidades e em outros estabelecimentos. Apropriam-se da liderança inovativa por meio de patentes, segredos, defasagens técnicas naturais e habilidades específicas à firma. O rico escopo das aplicações baseadas nas ciências subjacentes implicou que as firmas inovadoras e bem-sucedidas nesses setores tivessem crescido rapidamente. Produzem uma proporção relativamente grande de suas próprias tecnologias de processo, bem como uma elevada proporção de inovações de produto que serão utilizadas em outros setores. Sua diversificação é principalmente concêntrica, isto é, de conglomerado, e elas produzem uma proporção relativamente grande de todas as inovações geradas em seus setores de atividade. Exemplos: produtos químicos, informática, materiais elétricos, materiais eletrônicos e outros equipamentos de transporte.
Esta pesquisa possibilitou identificar os padrões de cooperação entre os setores da indústria de transformação brasileira e também descobrir quais setores que mais cooperaram no período pesquisado.
O resultado geral dessa pesquisa mostra que no Brasil ocorrem poucas relações de cooperação para o desenvolvimento de inovações de produto ou processo, sendo restrita a apenas poucos setores industriais.
Utilizando-se da tipologia de Pavitt, os autores verificaram que, no Brasil, os setores intensivos em produção, mais especificamente, intensivos em escala, possuem um índice de cooperação significativo, pois dos cinco setores identificados com um alto padrão de cooperação, três se enquadram nesta categoria. Assim, cada setor apresenta oportunidades tecnológicas distintas, assim como diferem em suas condições de cumulatividade e apropriação das inovações realizadas. Ao final, o autor faz algumas sugestões:
1 - Estudar de forma mais detalhada e aprofundada a estrutura de cada setor da indústria brasileira, tanto os setores com alto índice de cooperação quanto os que possuem um índice baixo, para diagnosticar a razão da diferença dos padrões de cooperação entre os setores, para fornecer um embasamento teórico mais aprofundado a respeito do assunto.
2 - Conduzir uma pesquisa longitudinal com os dados da PINTEC para acompanhar a evolução desses padrões de cooperação entre setores na indústria brasileira e verificar se houve crescimento ou não com relação a este tema; e
3 - Comparar os resultados obtidos nesta pesquisa com os indicadores de cooperação de outros países para se obter uma referência do Brasil em relação ao contexto global.

Referência: KATO, Érika Mayumi; GOBARA, Caio; ROSSONI, Luciano. Padrões de cooperação tecnológica entre setores na indústria brasileira: Uma análise quantitativa dos dados da PINTEC 2001-2003. In: XXV Simpósio de Gestão da Inovação Tecnológica, 2008

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