Powered By Blogger

terça-feira, 30 de outubro de 2012

RESUMO artigo Os consumidores valorizam a coleta de embalagens recicláveis? Um estudo de caso da logística reversa em uma rede de hipermercados.


A logística é responsável por diminuir a lacuna entre a produção e a demanda, fornecendo bens e serviços quando, onde e na condição física que desejarem os consumidores (Ballou, 1993). O objetivo da logística é planejar e coordenar as atividades necessárias para alcançar níveis desejáveis de serviços e qualidade ao custo mais baixo possível (Christopher, 2001). Esta definição tradicional de logística empresarial vem sendo modificada nos últimos anos. A preocupação de consumidores e governos com aspectos ambientais tem premido as organizações a adotarem mecanismos logísticos que garantam o recolhimento das embalagens dos seus produtos. Desta forma, o fluxo de materiais ao longo dos canais de suprimento deixa de ser unidirecional (fornecedores → clientes) para se tornar bidirecional (fornecedores ↔ clientes). A exigência dos consumidores por um nível de serviço mais elevado – que inclui as preocupações ambientais – estaria fazendo com que as empresas implantassem e investissem em atividades de logística reversa como fator de diferenciação e fidelização dos clientes. Assim, a mudança na cultura de consumo dos clientes estaria incentivando de forma importante a logística reversa. A maior preocupação dos governos com esta questão reflete-se no desenvolvimento de legislação adaptada aos modos de produção e consumo sustentáveis, que visem minimizar os impactos das atividades produtivas ao meio ambiente. Exemplo disso foi a elaboração da Resolução nº 258 do Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA (BRASIL, 1999). A logística reversa tem conquistado maior importância e espaço na operação logística das empresas, principalmente por seu potencial econômico. Dentro dos principais processos envolvidos com a logística reversa, a reciclagem é um dos mais importantes. Embora o potencial da atividade de logística reversa na economia seja econômica e ambientalmente importante, a falta de visão da atividade como geradora de vantagem competitiva às empresas compromete a estruturação e a eficiência destes canais. Recentemente, como forma de atenuar este problema, a maior empresa de reciclagem de alumínio do Brasil se uniu a uma grande rede de hipermercados numa campanha para incentivar a reciclagem de embalagens de bebidas. A expectativa das empresas era que a instalação de Centros de Coleta deste tipo de embalagem nos hipermercados geraria vantagens para ambas as organizações. A cadeia supermercadista associaria sua imagem com a preservação ambiental. Assim, a pesquisa procurou identificar se os clientes desta rede de hipermercados reconhecem os Centros de Coleta, fazem uso dos centros e, principalmente, se a presença deles os estimula a frequentar o estabelecimento. Para isso, foi realizada uma pesquisa com 115 clientes de três lojas desta rede de hipermercados. As lojas pesquisadas estavam localizadas no Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo. A pesquisa se caracteriza de natureza qualitativa e exploratória. Utilizando para isso o estudo de caso em uma rede hipermercadista que se uniu à maior empresa de reciclagem de alumínio do Brasil na instalação de Centros de Coleta nos hipermercados. Conceituação e caracterização da logística reversa: Na década de 80, o conceito de logística reversa ainda estava limitado a um movimento contrário ao fluxo direto de produtos na cadeia de suprimentos. Foi nos anos 90 que novas abordagens foram introduzidas e o conceito evoluiu impulsionado pelo aumento da preocupação com questões de preservação do meio ambiente. O Conselho de Profissionais de Gestão da Cadeia de Suprimentos definiu logística reversa como “um segmento especializado da logística que foca o movimento e gerenciamento de produtos e materiais após a venda e após a entrega ao consumidor. Inclui produtos retornados para reparo e/ou reembolso financeiro”. Já Rogers e Tibben-Lembke (1998, p. 2) definem logística reversa como: [...] o processo de planejamento, implementação e controle da eficiência e custo efetivo do fluxo de matérias-primas, estoques em processo, produtos acabados e as informações correspondentes do ponto de consumo para o ponto de origem com o propósito de recapturar o valor ou destinar à apropriada disposição. A logística reversa é uma atividade ampla que envolve todas as operações relacionadas com a reutilização de produtos e materiais como as atividades logísticas de coleta, desmonte e processo de produtos e/ou materiais e peças usadas a fim de assegurar uma recuperação sustentável deles e que não prejudique o meio ambiente (REVLOG, 2005). Para que haja um fluxo reverso, existe um conjunto de atividades que uma empresa pode realizar ou terceirizar. Entre estas atividades encontram-se a coleta, separação, embalagem e expedição de itens usados, danificados ou obsoletos dos pontos de venda (ou consumo) até os locais de reprocessamento, reciclagem, revenda ou descarte (Steven, 2004). A análise dos produtos e materiais tem a função de definir seu estado e determinar o processo ao qual deverá se submeter. O foco de atuação da logística reversa envolve a reintrodução dos produtos ou materiais na cadeia de valor pelo ciclo produtivo ou de negócios. Portanto, o descarte do produto deve ser a última opção a ser analisada. Pela gestão do fluxo reverso de produtos e/ou informações, a logística reversa integra os canais de distribuição reversos. Leite (2003, p. 4) define os canais de distribuição reversos como: [...] as etapas, as formas e os meios em que uma parcela desses produtos, com pouco uso após a venda, com ciclo de vida útil ampliado ou após extinta a sua vida útil, retorna ao ciclo produtivo ou de negócios, readquirindo valor em mercados secundários pelo reuso ou reciclagem de seus materiais constituintes. Observa-se que a logística reversa de pós-venda, em conjunto com a de pós-consumo, propicia benefícios à imagem corporativa, competitividade e redução de custos da empresa. O canal de distribuição reverso de pós-consumo se caracteriza por produtos oriundos de descarte após uso e que podem ser reaproveitados de alguma forma e, somente em último caso, descartados. Já o canal de distribuição reverso de pós-venda se caracteriza pelo retorno de produtos com pouco ou nenhum uso que apresentaram problemas de responsabilidade do fabricante ou distribuidor ou, ainda, por insatisfação do consumidor com os produtos (Rogers e Tibben-Lembke, 1998). Diversas podem ser as razões para que um produto retorne pela cadeia de suprimentos, tais como: defeito, falta de atendimento às expectativas, erro de pedidos, excesso de estoque, danificação ou contaminação do produto e produtos fora de linha. Como a logística reversa de pós-venda, a atividade relacionada ao pós-consumo também possui vantagens econômicas para a empresa que a utiliza. Leite (2003) afirma que o objetivo econômico de implantação da logística reversa de pós-consumo se deve às economias relacionadas com o aproveitamento das matérias-primas secundárias ou provenientes de reciclagem, bem como da revalorização dos bens pela reutilização e reprocesso. Diferentemente do canal de pós-venda, de justificativa eminentemente econômica, o retorno de bens usados também tem justificativa ligada às questões ambientais e legais. Assim sendo, esta atividade é mais significativa em sociedades mais preocupadas com este tema, nas quais, via de regra, a legislação ambiental é mais rígida. A utilização da logística reversa como fator gerador de vantagem competitiva - As bases de vantagens competitivas duradouras e sustentáveis residem em diferenças no comportamento estratégico de uma empresa e de seus concorrentes. A estratégia de uma empresa pode ser vista como sendo “a busca deliberada de um plano de ação para desenvolver e ajustar a vantagem competitiva...” (Henderson, 1998, p. 5). Assim, uma empresa deve ser capaz de criar e operacionalizar estratégias que as diferenciem de seus concorrentes e as habilitem para a obtenção de vantagens competitivas sustentáveis e defensáveis a longo prazo. Conhecer os fatores de sucesso é essencial para que isso possa acontecer. A diferenciação de produtos e serviços é uma estratégia importante para a criação de vantagem competitiva. Diferenciar um produto ou serviço significa torná-lo especialmente adaptado a um segmento de consumo, o qual estaria pronto a pagar mais para obtê-lo ou, ainda, utilizá-lo mais intensivamente (Kotler e Armstrong, 1998). A diferenciação dos serviços logísticos, agregando valor ou atendendo às necessidades de clientes com preocupações específicas, é uma forma importante de uma empresa obter vantagem competitiva. A logística contribui para o sucesso das organizações não somente por propiciar aos clientes a entrega de produtos ou serviços nos padrões de tempo e espaço demandados, mas também por promover suporte ao produto após sua venda ou consumo. A logística reversa pode ser utilizada estrategicamente para permitir aos participantes do elo seguinte ao processamento na cadeia, tais como varejistas e atacadistas, reduzir o risco de comprar produtos que podem não ter vendas no período de tempo julgado conveniente. O uso estratégico da capacidade de logística reversa aumenta os custos de mudança de fornecedores. O aumento no nível de serviço proporcionado por esta atividade fortalece a cadeia de valor de uma empresa que, se bem configurada, reforça sua vantagem competitiva (Chaves, 2005). Para ser visualizada e compreendida, a vantagem competitiva não pode ser analisada sob o ponto de vista da empresa como um todo. Ela se origina em atividades segmentadas como produção, projeto, marketing, logística, dentre outras. Cada atividade é fonte potencial de vantagem competitiva para a empresa. A logística reversa, por perpassar várias destas funções, pode ser responsável por vantagens competitivas ligadas mais ou menos profundamente a cada uma delas. De acordo com alguns autores (Rogers e Tibben-Lembke, 1998; Leite, 2003, Steven, 2004, Chaves, 2005), são exemplos de vantagens competitivas que podem ser obtidas pela adoção de políticas e instrumentos de logística reversa: Restrições ambientais: A logística deve procurar a minimização do impacto ambiental, não só dos resíduos oriundos das etapas de produção e do pós-consumo, mas dos impactos ao longo do ciclo de vida dos produtos; Redução de custo: O reaproveitamento de materiais e a economia com embalagens retornáveis fornecem ganhos que estimulam novas iniciativas e esforços em desenvolvimento e melhoria dos processos de logística reversa; Razões competitivas: Uma forma de ganho de vantagem competitiva frente aos concorrentes é a garantia de políticas liberais de retorno de produtos que fidelizem os clientes. Empresas que possuem um processo de logística reversa bem gerido tendem a se sobressair no mercado, uma vez que podem atender aos seus clientes de forma melhor e diferenciada do que seus concorrentes; e diferenciação da imagem corporativa: Muitas empresas estão utilizando logística reversa estrategicamente e se posicionando como empresa-cidadã, contribuindo com a comunidade e ajudando as pessoas menos favorecidas. O comportamento do consumidor e a escolha do local de compra - Watson (1913, p. 159) definiu comportamento como “o conjunto das reações ou respostas que um organismo apresenta às estimulações do ambiente”. Apesar da definição simples, o estudo do comportamento do consumidor abrange uma grande variedade de disciplinas inter- relacionadas caracterizadas pela complexidade de seus conteúdos. No entanto, para esta pesquisa é relevante destacar em qual etapa de um modelo clássico de comportamento do consumidor a escolha do local de compra insere-se. Segundo Kotler (2000, p. 182), os estímulos de marketing associados a outros estímulos do ambiente, influenciam as pessoas no processo de decisão de compra, o qual está fortemente relacionado às características do comprador. Para escolher o local de compra, o cliente busca informações que o auxiliem na decisão de forma a minimizar o risco de insatisfação. Estas informações podem ser fornecidas por atividades promocionais pelo próprio varejista sobre as características do ponto de venda, por questões econômicas como renda familiar, dentre outras. No entanto, alguns autores (Engel et al., 2000; Moura, 2005) afirmam que a imagem da loja é um dos fatores que mais influenciam o consumidor na escolha de uma loja para compra. Solomon (1999) e Peter e Olson (1999) apresentaram um modelo básico de decisão de compra do consumidor que envolve as seguintes etapas: reconhecimento do problema; busca de informação; avaliação de alternativas; compra; e pós-compra. A natureza desse processo decisório envolve as opções de compra, opções de consumo e opções de descarte. Engel et al. (2000) também adicionam ao modelo as etapas de consumo e descarte, que seriam as últimas etapas do processo decisório do consumidor. Ante todo o exposto, os autores constataram que a logística reversa não é um fator de influência na decisão sobre o local de compra. Outros fatores como proximidade, preço e variedade dos produtos prevalecem nesta escolha. Concluíram, também, através dos dados levantados, que os clientes do hipermercado não reconhecem a coleta de embalagens como um serviço diferenciado. Portanto, é difícil que o fluxo nas lojas tenha aumentado e que os clientes tenham se tornado mais fiéis em função da campanha empreendida pelas empresas. A existência de um sistema logístico reverso não é um elemento qualificador e, sim, uma atividade ganhadora de pedido, pois ele oferece um serviço específico que, muitas vezes é determinante na escolha do fornecedor. No entanto, para a campanha de incentivo à reciclagem de embalagens ser mais eficiente e abrangente é necessário que a rede de hipermercados e a empresa recicladora despendam um maior esforço na divulgação dos Centros de Coleta e na motivação dos seus clientes para a campanha. Como implicações gerenciais, a pesquisa dos autores considera que as empresas podem alcançar uma vantagem competitiva sustentável por diferenciação da imagem da empresa e de redução de custos. Porém este processo deve ser acompanhado por fortes incentivos de promoção, para contribuir para os resultados esperados na concepção da logística reversa. Este tipo de campanha é susceptível à conscientização por parte dos consumidores, bem como de sua percepção das vantagens em participar dela.


CHAVES, Gisele de Lorena Dinz; BATALHA, Mário Otávio. Os consumidores valorizam a coleta de embalagens recicláveis? Um estudo de caso da logística reversa em uma rede de hipermercados. Gestão e Produção. v.13, n.3, p.423-434, set.-dez. 2006

Nenhum comentário:

Postar um comentário