O compromisso
com o ambiente natural tornou-se uma importante variável dentro dos cenários
competitivos atuais. Isso tem incentivado muitas empresas a iniciarem transformações
voluntárias, aproximando-as dos princípios ecológicos. Essas transformações
deram origem a diversas estratégias ambientais que variam entre duas posições
extremas: reatividade ambiental e pró-atividade
ambiental. A primeira é típica de empresas que apenas implementam o mínimo
de alterações para atender regulações, que são obrigatórias, e a segunda, por
sua vez, é típica de empresas que voluntariamente tomam medidas para reduzirem
o impacto sobre o ambiente natural. Surgem, então, algumas questões: o que leva
as empresas a desenvolverem estratégias ambientais proativas? Quais são os
fatores determinantes de um forte compromisso
e envolvimento ambiental?
Diversos autores têm abordado a estas perguntas e estudaram o papel
desempenhado pelas diversas características das empresas em seu ambiente social
e econômico. Dessa forma, o objetivo do
artigo, ora resenhado, é analisar e
integrar a literatura e fornecer um esquema preliminar das variáveis que se
destacam como principais determinantes da pró-atividade ambiental. A
relevância em estudar o assunto, segundo os autores, está em: 1) permitir
identificar as características típicas de uma empresa pró-ativa; 2) fornecer
uma lista de variáveis que devem ser tomadas em consideração nos estudos com o
objetivo de explicar e contextualizar estratégias ambientais; e 3) ajudar a
identificar os atributos que devem ser desenvolvidos e barreiras que devem ser
eliminadas a fim de promover uma maior pró-atividade ambiental das empresas. O
artigo está estruturado em três partes: a primeira parte aborda o conceito de pró-atividade
ambiental e apresenta uma classificação funcional das práticas através das
quais pode manifestar-se. A segunda faz comentários dos principais fatores determinantes
identificados na literatura. Por fim, o artigo resume as principais
considerações dos autores.
Pró-atividade ambiental pode ser conceituada como sendo a
implementação voluntária de práticas e iniciativas destinadas a melhorar o
desempenho ambiental, podendo se
manifestar através de estratégias diferentes, cada uma caracterizada por uma
série de práticas ambientais. Na tentativa de estabelecer uma classificação funcional para estas
práticas, os autores distinguem três categorias: 1) práticas de planejamento e de organização, 2) práticas operacionais
e 3) práticas comunicacionais. As
práticas de planejamento e de organização refletem a
extensão do que foi desenvolvido e implementado em um sistema de gestão
ambiental (SGA). Elas indicam a extensão do que a empresa definiu como política
ambiental, se tem desenvolvido processos para estabelecer objetivos ambientais,
selecionando e implementando práticas ambientais e avaliando os resultados de
tais práticas. O próprio sistema não atenua danos ambientais, mas estabelece
mecanismos que permitem que a empresa avance neste sentido, de forma racional e
coordenada. As práticas operacionais
implicam mudanças no sistema de produção e operações, que desempenham um papel
essencial nas questões ambientais. Classificam-se em dois grupos: 1) práticas relacionadas ao produto e as 2)
práticas relacionadas ao processo. O primeiro grupo inclui práticas focadas
em projetar e desenvolver produtos ambientalmente conscientes. Por exemplo,
compreende os esforços de design para a eliminação de materiais perigosos e
produtos poluentes, reduzindo o consumo de recursos na produção, utilizando
para isso técnicas de reutilização, reciclagem, etc. O segundo grupo enfoca o
desenvolvimento e a implementação de métodos operacionais e processos
ambientalmente conscientes. Alguns deles afetam processos internos e abrangem
práticas de remediação e controle (instalação de filtros de emissão ou sistemas
de separação e preparação de resíduos) juntamente com as práticas de prevenção
(utilização de fontes renováveis de energia ou aquisição de tecnologias
limpas). Outras práticas afetam os processos
externos. As práticas comunicacionais visam comunicar para o ambiente social
e institucional da empresa as ações tomadas em favor do ambiente natural.
Práticas como estas têm sido consideradas como um lado mais voltado para o compromisso
ambiental. Todavia, é importante levar em conta que, por si só, não contribuem
para melhorar o desempenho ambiental, que seria a redução do consumo de
recursos e emissões de poluentes. Em vez disso, elas tendem a perseguir os
objetivos comerciais ao tentarem estabelecer relações cordiais com a variedade
de interessados em torno da empresa. Estas
práticas são, portanto, bem apreciadas pelos stakeholders e são, por vezes, o
principal meio através do qual alguns deles formarão uma opinião sobre o
desempenho ambiental da empresa. As
práticas de planejamento e de organização e as práticas comunicacionais
são facilmente perceptíveis pelos stakeholders externos e têm o potencial de
influenciar opiniões. Ambos têm, portanto, o potencial de influenciar o
desempenho do negócio, uma vez que podem reduzir a pressão e atrair clientes
verdes. No entanto, as práticas que realmente podem mudar o desempenho
ambiental da empresa são as práticas
operacionais, que são, por sua vez, menos perceptíveis pelo ambiente social e
econômico. Neste sentido, a mensuração de uma sincera pró-atividade
ambiental não deve ser baseada apenas no externo e práticas ambientais mais
perceptíveis, mas também na análise das
transformações ambientais realizadas nos sistemas de produção e operações.
Os
autores analisaram alguns fatores que se
destacaram como determinantes da pró-atividade ambiental nas empresas,
descritos na literatura, que receberam a atenção principal dos
pesquisadores e que foram considerados em um número maior de trabalhos. As variáveis
consideradas são: 1) características
organizacionais, agrupadas como recursos de empresa. Este grupo é composto por cinco fatores: tamanho da empresa, grau de
internacionalização, posição na cadeia de valor, atitude gerencial e motivações
e atitude estratégica da empresa; 2) fatores
externos, que descrevem o ambiente geral que cercam a empresa. Duas
variáveis foram estudadas dentro deste grupo: setor industrial e localização
geográfica; e, por fim, um fator determinante destaca-se como fundamental e
central para todos os outros: 3) a
pressão exercida pelos stakeholders da empresa.
1) Características organizacionais - 1.1) Tamanho da empresa
e disponibilidade de recursos - medido pelo número
de empregados ou volume de negócios, é uma das variáveis estruturais que mais
parecem influenciar a implementação de práticas ambientais. Os argumentos
usados para explicar esta variável são: (1) as grandes empresas têm mais
disponibilidade de recursos para se dedicar à gestão ambiental; (2) elas
recebem mais pressão de seu ambiente econômico e social e frequentemente são o
principal objetivo dos governos locais e organizações não governamentais; (3)
sua escala lhes permite enfrentar as indivisibilidades associados à gestão
ambiental, que são os necessários investimentos em tecnologia, recursos humanos
ou certificações, que são semelhantes para
todas as empresas independentemente do seu tamanho e (4) os esforços ambientais
das grandes empresas têm um impacto positivo sobre um número maior de clientes.
1.2) Internacionalização
- Fazer parte de uma corporação internacional
pode favorecer a empresa na gestão ambiental de acordo com os seguintes
argumentos: (1) empresas multinacionais podem se beneficiar da transferência de
conhecimento entre as diferentes divisões e plantas, facilitando assim a adoção
conjunta de novas práticas e a rápida imitação das filiais mais avançadas; (2)
as multinacionais tendem a definir suas políticas ambientais, de modo que
satisfaçam os mais rigorosos requisitos vigentes dos países onde elas competem,
o que leva os autores a pensar que em muitos países as políticas ambientais
sistematicamente refletem certa pró-atividade. 1.3) Posição na cadeia de valor - A posição ocupada na cadeia de valor ou, em outras palavras, a
proximidade com o consumidor final dentro da cadeia de abastecimento, pode ser
intuído como um fator importante que influencia a pró-atividade ambiental da
empresa. Isso é fundamentalmente devido ao fato de que a pressão do consumidor
é elevada para os fabricantes de produtos acabados e perde força na mais alta
posição do fabricante da cadeia de abastecimento. No entanto, esta pressão é
cada vez mais forte subindo a cadeia de abastecimento e muitos fabricantes
finais agora estão exigindo a garantia do compromisso ambiental de seus
fornecedores. 1.4) Atitudes e
motivações administrativas - O
apoio e empenho do topo da gestão são considerados fatores essenciais para o
desenvolvimento de estratégias ambientais proativas com base em dois
argumentos: (1) os recursos necessários para a implementação de práticas
ambientais serão mais facilmente disponíveis, se a pessoa responsável por estes
recursos apoiar os planos e iniciativas ambientais (2) muitas iniciativas
ambientais requerem a colaboração e coordenação de diferentes departamentos e
divisões e isso é mais fácil gerenciar quando tais iniciativas são aprovadas
pelo topo da empresa. Conforme consideram alguns autores, o apoio dado pelo
topo da gestão é um elemento-chave para a implementação e sucesso das
estratégias ambientais proativas. 1.5)
Atitude estratégica - Outra variável que tem sido considerada
como relevante para a seleção de estratégias ambientais e que está intimamente
relacionado com o fator anterior é a atitude estratégica da empresa. Para
alguns pesquisadores, essa atitude é a maneira como a empresa reage ou “proage”
ao mercado de estímulos e eles a consideram como uma variável-chave para a
classificação de estratégias ambientais.
2) Fatores
externos - 2.1)
Setor Industrial - O
setor industrial constitui uma variável essencial para o estudo da gestão
ambiental, uma vez que cada setor tem um potencial poluidor diferente e está
sujeito a diferentes controles por parte de algumas instituições, de grupos
sociais e dos próprios consumidores. 2.2)
Localização geográfica - A localização das instalações de produção
parece ser um fator importante no que se refere a duas outras variáveis: (1) regulamentação
ambiental e (2) pressão social. As empresas
menos proativas concentram-se em regiões com baixos níveis de regulamento. No caso
de empresas já estabelecidas, alguns trabalhos afirmam que as empresas
podem mudar seu comportamento ambiental para a pró-atividade. A regulamentação,
nesse caso, atua como um gatilho para inovação ambiental e pode levar a uma
maior pró-atividade ambiental da qual é possível obter certas vantagens
competitivas. Assim, as regiões mais regulamentadas concentram as empresas mais
proativas. No que diz respeito à relação entre o local e a pressão social, que
fundamentalmente afeta a seleção de um local específico dentro de uma região. A
estratégia ambiental da empresa responde não apenas para os riscos ambientais
endógenos (potencial poluidor), mas também para os riscos ambientais exógenos.
Neste sentido, riscos exógenos são menores quando as atividades de produção
estão localizadas longe de grandes cidades e de reservas naturais ou dentro de
zonas industriais ou quando as plantas representam uma importante fonte de
emprego para cidades vizinhas. Esses autores observaram que quanto maior o
risco ambiental exógeno das empresas, maior será seu compromisso com a
preservação do meio ambiente. Ou seja, nesses locais, a pressão social é menor,
e as empresas encontram menos motivos para desenvolver estratégias proativas.
3) Pressão
dos stakeholders – Os stakeholders são indivíduos e grupos que podem afetar o desempenho da
empresa ou que são afetados pelas ações da empresa. Há uma distinção entre Stakeholders
primários e Stakeholders secundários. Os primeiros são aqueles em que a
organização não pode sobreviver (clientes, fornecedores, reguladores) e os
secundários são os que afetam e são afetados pela organização, mas não são
envolvidos em transações com a empresa e não são essenciais para sua sobrevivência
(mídia e organizações não-governamentais). Outra distinção
importante é entre o público primário interno (colaboradores, acionistas e
instituições financeiras) e os principais stakeholders externos (clientes e
fornecedores).
Na
consideração final, os autores colocam que o estudo permitiu delinear o perfil
típico dos fabricantes ambientalmente pró-ativos: grandes fabricantes de
produtos acabados com presença internacional, com gestores conscientes da importância
da gestão ambiental e convictos das oportunidades competitivas, com atividades
nos setores industriais com impacto ecológico alto e de risco, com instalações
de produção em países com normas ambientais restritivas e na proximidade de
reservas naturais e cidades onde eles não são uma importante fonte de emprego.
Forneceram, ainda, uma lista de variáveis que
devem ser tomadas em consideração nos estudos com o objetivo de explicar e
definir um contexto de estratégias ambientais. Por fim, colocam que, embora
o artigo se concentre sobre os fatores que mais atenção tem sido dada na literatura
acadêmica, pesquisas futuras devem visar à procura de novos fatores e analisar
outras variáveis que já foram mencionados como possíveis determinantes. Nesse
sentido, os autores mencionam a flexibilidade do sistema produtivo, a imitação
dos concorrentes, desempenho financeiro, dentre outros. Citam, ainda, a
importância de se estudar as inter-relações entre os diferentes fatores propostos
no artigo a fim de identificar os mais importantes.
Referência:
González-Benito,
J.; González-Benito, Ó. (2006). A Review of Determinant Factors of Environmental Proactivity. Business Strategy Environment, 15, 87-102.
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